Por Marco Aquino
LIMA (Reuters) - O socialista peruano Pedro Castillo começou a traçar o que seria seu primeiro gabinete de governo com uma mistura de técnicos e aliados políticos, enquanto aguarda ser confirmado o vencedor de uma apertada eleição presidencial no Peru realizada há um mês, disseram à Reuters três fontes familiarizadas com os planos.
Castillo, que prevaleceu com estreita margem sobre a candidata da direita Keiko Fujimori, de acordo com a contagem inicial de votos, está trabalhando com sua equipe de transição "coordenando" com aqueles que poderiam compor seu governo de 18 ministros, disse uma das fontes próximas ao candidato e que preferiu manter o seu nome em sigilo porque os planos ainda não são públicos.
“Será um gabinete articulado, técnico e político, que vai priorizar a questão econômica e as demandas sociais”, disse uma outra fonte que pediu anonimato.
Uma das cartas principais é Pedro Francke, atual assessor econômico de Castillo que desempenhou um papel fundamental para acalmar os mercados após as eleições de 6 de junho e que seria o futuro ministro da Economia, disseram duas das fontes consultadas.
“Ele é o candidato mais forte e qualificado” para a pasta de Economia, disse uma das fontes.
Nas últimas semanas, Francke realizou conferências, na maioria das vezes virtuais, com investidores, empresários, diplomatas e representantes de organizações multilaterais interessados em obter informações sobre a política econômica de Castillo.
Da mesma forma, o assessor foi peça-chave em uma comunicação recente entre Castillo e o presidente do Banco Central, Julio Velarde, que foi convidado a permanecer no cargo.
Francke disse terça-feira que os investidores colocaram de lado "boa parte" de suas preocupações e que mesmo, com os altos preços internacionais dos metais, consideram razoável o plano de aumento de impostos sobre o setor de mineração para obter mais recursos para os programas sociais.
A conformação do futuro gabinete será um indicador crucial para os mercados diante das reformas que Castillo planeja, como reescrever a Constituição e aumentar os impostos sobre a mineração no segundo maior produtor mundial de cobre.
Castillo disse no último fim de semana que já tem um grupo de pessoas "idôneas" para um gabinete e que sua prioridade será a economia, duramente atingida pelo surto do Covid-19.
Um porta-voz de Castillo não comentou os detalhes da possível equipe do próximo governo.
Os mercados podem se recuperar com um gabinete "favorável ao mercado", disse Nikhil Sanghani, da Capital Economics, na semana passada. "O presidente em espera no Peru, Pedro Castillo, parece mais moderado do que muitos temiam inicialmente."
PADRÃO DE SEGURANÇA
O tribunal eleitoral peruano ainda não pode proclamar o próximo governante do país, porque tem que resolver os pedidos de nulidade de votos apresentados pela filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori. A análise dos pedidos não deve passar de 15 de julho, segundo o órgão.
Keiko denunciou uma suposta fraude sem maiores provas, apesar de entidades como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Departamento de Estado dos Estados Unidos terem destacado a transparência do processo.
Castillo se reuniu nas últimas semanas com técnicos independentes, dirigentes sindicais, representantes de organizações indígenas, autoridades locais e ex-funcionários de diferentes grupos políticos, incluindo o ex-ministro das Relações Exteriores Manuel Rodríguez Cuadros.
"Não prevejo uma política externa sectária do Peru, que vai produzir posições ideológicas", disse Rodríguez Cuadros, que respondeu com cautela à Reuters. “Não consigo me imaginar desempenhando algum cargo importante no Executivo”, acrescentou.
Uma das fontes consultadas disse que a relação de Castillo com o partido Peru Livre que o indicou continuará e será fundamental para as iniciativas do governo na próxima legislatura do Congresso fragmentado. O grupo de origem marxista tem apenas 37 parlamentares dos 130 membros do Parlamento unicameral.
A Promotoria recentemente abriu uma investigação sobre alguns líderes do Peru Livre, incluindo seu líder e fundador Vladimir Cerrón, por supostamente pertencer a uma rede de suborno e levantar fundos para financiar a campanha eleitoral.
Cerrón, um médico que admira os governos de esquerda de Cuba, Venezuela e Bolívia, rejeita as acusações.
Castillo, pouco conhecido até antes das eleições, quer uma nova Constituição que dê ao Estado um papel mais destacado na economia, plano que abalou a elite política e empresarial do país.
“Fazia parte da promessa eleitoral convocar uma assembleia constituinte, mas dentro dos canais da democracia e respeitando a governabilidade do país”, disse uma das fontes.
A votação acirrada dividiu profundamente o Peru e passeatas em apoio aos candidatos acontecem quase todos os dias em meio ao processo eleitoral que colocou o país em estado de alerta, que espera ver um novo presidente no poder a partir de 28 de julho.