Por Ahmed Rasheed e Raya Jalabi e Ahmed Aboulenein
BAGDÁ (Reuters) - A comissão eleitoral do Iraque ignorou os alertas de um órgão anti-corrupção sobre a credibilidade das máquinas eletrônicas de contagem de votos usadas nas eleições parlamentares de maio, de acordo com investigadores e um documento visto pela Reuters.
Os aparelhos, providenciados pela companhia sul-coreana Miru Systems sob um acordo com a Alta Comissão Eleitoral Independente (IHEC, na sigla em inglês), estão no centro de alegações de fraude que levaram a uma recontagem manual em algumas áreas após as eleições de 12 de maio.
Os resultados da recontagem ainda não foram anunciados e líderes políticos ainda estão tentando formar um governo.
Preocupações sobre o centro de contagem eleitoral se concentram em discrepâncias na contagem pelas máquinas de votação, principalmente na província curda de Sulaimaniya e na província etnicamente mista de Kirkuk, com acusações de que os aparelhos podem ter sido adulterados ou hackeados para distorcer o resultado.
O Conselho de Auditoria Suprema do Iraque (BSA, na sigla em inglês) expressou reservas sobre o sistema de contagem de votos em relatório enviado à IHEC em 9 de maio, três dias antes das eleições.
O BSA afirmou em relatório, visto pela Reuters, que a IHEC não respondeu a 11 preocupações levantadas -- incluindo questões sobre procedimentos contratuais, inspeção de documentos da companhia e a falta de uma avaliação dos aparelhos em busca de quaisquer falhas.
"Portanto, entendemos que ignorar e não responder às descobertas do relatório é considerada uma clara violação legal que contribuiu para a aprovação dos dispositivos eletrônicos de contagem de votos apesar de sua inadequação e da facilidade de serem adulterados", disse a BSA no relatório.
O relatório também se referiu a uma carta da Embaixada do Iraque na Coréia do Sul dizendo que a Miru Systems havia montado, mas não fabricado o equipamento enviado a Bagdá, e sugerindo que o preço deveria ter sido menor.
O fracasso da IHEC em atuar sobre as constatações do relatório poderia gerar pedidos de que a eleição seja realizada novamente, uma preocupação para o clérigo populista Moqtada al-Sadr, líder do bloco político que venceu em 12 de maio.
Autoridades da IHEC se recusaram a comentar.
Um funcionário da Miru, que falou sob condição de anonimato, rejeitou a afirmação da carta e disse que a empresa fabricou os equipamentos. Ele também disse que o "equipamento não mente" e que ele e cinco outros funcionários da Miru viajaram para o Iraque para examinar as máquinas e não encontraram evidências de manipulação.
"Verificamos nosso dispositivo eleitoral fornecido ao Iraque depois da alegação de fraude e descobrimos que não houve mau funcionamento no aparelho nem em seu sistema", disse ele.
"Nós já submetemos o relatório à comissão eleitoral nacional do Iraque após fazer uma verificação completa no aparelho."
PREOCUPAÇÕES DE SADR
O clérigo Moqtada al-Sadr expressou preocupações sobre a situação.
"Existem temores de que o processo de recontagem será um preâmbulo para repetir a eleição e desconsiderar os votos do povo. Portanto será um enterro do processo democrático e reduzirá a participação (dos eleitores em eleições) no futuro", disse Sadr no final de junho.
A eleição foi a primeira na qual o sistema de contagem de votos eletrônico foi usado no Iraque. O uso do sistema digitalizado tinha como objetivo ajudar a regular e acelerar a contagem de votos.
(Reportagem adicional de Haejin Choi e Ju-min Park em Seul, Aaron Ross em Kinshaha, Luc Cohen em Buenos Aires e Olga Dzyubenko em Bishkek)