Por Babak Dehghanpisheh e Stephen Kalin
SUL DE MOSUL, Iraque (Reuters) - O Exército do Iraque estava tentando chegar nesta quinta-feira a uma localidade ao sul de Mosul onde o Estado Islâmico supostamente executou dezenas de pessoas para amedrontar a população e desestimular qualquer apoio à ofensiva liderada pelos EUA contra o último bastião urbano dos jihadistas no país.
Depois de 11 dias do que se espera ser a maior operação terrestre no Iraque desde a invasão encabeçada pelos Estados Unidos em 2003, unidades do Exército e da polícia federal estavam combatendo atiradores de elite e carros-bomba ao sul de Hammam al-Alil, local das supostas execuções situado nos arredores de Mosul, disse um porta-voz militar iraquiano.
Os militantes mataram dezenas de prisioneiros a tiros na localidade, a maioria deles ex-integrantes da polícia e do Exército do Iraque levados de vilarejos que o grupo foi obrigado a abandonar diante do avanço das tropas, afirmaram autoridades da região na quarta-feira.
As execuções tinham como objetivo "aterrorizar os outros, aqueles que estão em Mosul em particular", e também dar cabo dos prisioneiros, disse Abdul Rahman al-Waggaa, membro do conselho provincial de Nínive. Algumas das famílias dos executados também estão detidas em Hammam al-Alil, disse.
Na terça-feira, o porta-voz de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) Rupert Colville disse haver relatos de que combatentes do Estado Islâmico mataram dezenas de pessoas nas cercanias de Mosul na semana passada.
Um correspondente da Reuters se encontrou com familiares de reféns ao sul de Mosul. Um deles é um policial que voltou para ver a família que havia deixado para trás quando seu vilarejo foi tomado pelos militantes dois anos atrás.
"Temo que eles continuem retirando-os de vilarejo em vilarejo até chegarem a Mosul. Depois eles irão desaparecer", disse, pedindo para não ser identificado para proteger parentes ainda nas mãos dos jihadistas.
Os combatentes do Estado Islâmico estão mantendo uma defesa aguerrida contra as investidas ao sul de Mosul, contendo tropas do Iraque nessa frente e obrigado uma unidade de elite do Exército no leste da cidade a adiar um avanço mais rápido.
QUEDA DE MOSUL
A queda de Mosul marcaria a derrota efetiva do grupo no país. Foi de sua Grande Mesquita que o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, declarou um "califado" que ainda engloba partes da Síria.
O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, disse na terça-feira que o ataque a Raqqa, principal bastião do Estado Islâmico na Síria, irá começar enquanto a batalha de Mosul transcorre.
Foi o primeiro sinal oficial de que forças apoiadas pelos EUA nos dois países podem realizar operações simultâneas em breve para esmagar o autoproclamado califado de uma vez por todas.
Agências de assistência da ONU disseram que até agora os confrontos forçaram cerca de 16 mil pessoas a deixar seus lares. Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iraque, disse à Reuters na terça-feira que um êxodo em massa pode ocorrer, talvez já nos próximos dias.
Uma autoridade norte-americana de alto escalão disse que cerca de 50 mil tropas terrestres iraquianas estão participando da ofensiva – uma força principal de 30 mil soldados das Forças Armadas do governo, 10 mil combatentes curdos e 10 mil policiais e voluntários locais.
Unidades do Exército do Iraque estão no sul e no leste, e os combatentes curdos estão atacando do leste e do norte da cidade, onde entre 5 e 6 mil jihadistas estão entrincheirados, de acordo com estimativas dos militares iraquianos.
Cerca de 5 mil forças dos EUA também estão no Iraque. Mais de 100 delas estão aconselhando comandantes de forças iraquianas e curdas peshmerga e ajudando os aviões da coalizão a atingirem seus alvos, mas não estão atuando nas frentes de batalha.