Por Andrew Mills e Tiksa Negeri e Milan Pavicic
DUBAI/HARAR, ETIÓPIA (Reuters) - O Human Rights Watch disse nesta segunda-feira que guardas sauditas na fronteira mataram centenas de imigrantes etíopes --incluindo mulheres e crianças -- que tentavam entrar no país por meio de uma região montanhosa do Iêmen.
Em relatório de 73 páginas, a entidade afirmou que os guardas usaram explosivos para matar alguns imigrantes, com outros sendo alvejados por balas a curta distância. O grupo compilou os depoimentos de 38 etíopes que tentaram cruzar a fronteira entre março de 2022 e junho de 2023, além de parentes e amigos das vítimas.
Uma autoridade saudita que não quis se identificar disse por email nesta segunda-feira que as acusações da Human Rights Watch são “infundadas e não embasadas em fontes confiáveis”. O país já tinha sido acusado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano passado, de que seus oficiais nas fronteiras matavam imigrantes sistematicamente, algo também negado.
Há cerca de 750 mil etíopes na Arábia Saudita, de acordo com estudos da ONU. Muitos deles fugiram do seu país por causa da situação econômica. Além disso, o norte etíope tem sido palco de violentos conflitos nos últimos anos.
A rota migratória do Chifre da África, passando pelo Golfo de Áden e Iêmen até chegar à Arábia Saudita, é muito conhecida. Os sauditas formam um dos países mais ricos do mundo árabe.
A Human Rights Watch afirmou ter baseado seu relatório em relatos de testemunhas e 350 vídeos e fotos de imigrantes mortos e feridos, além de imagens de satélite retiradas de postos de controle da imigração saudita.
“Pessoas me disseram ter testemunhado campos de morte, com corpos espalhados em toda a área montanhosa... pessoas pela metade”, afirmou a autora do relatório, Nadia Hardman, em entrevista à Reuters.
A Reuters analisou vídeos fornecidos pela entidade. Neles, há estradas, prédios e montanhas que batem com imagens de satélite, permitindo à Reuters afirmar que as filmagens são mesmo da fronteira entre Iêmen e Arábia Saudita.
(Reportagem de Andrew Mills no Golfo, Tiksa Negeri em Harar e Milan Pavicic em Gdansk; reportage adicional de Emma Farge em Genebra, Daphne Psaledakis em Washington, e Dawit Endeshaw em Addis Ababa)