VARSÓVIA (Reuters) - O ganhador do prêmio Nobel da Paz Lech Walesa cobrou a Igreja Católica a prevenir futuros abusos sexuais de crianças por parte de membros do clero, depois que um novo documentário mostrou seu confessor como um dos acusados.
O filme "Just Don't Tell Anyone", que mostra pessoas confrontando padres que acusam de tê-las abusado na infância, teve mais de 7 milhões de visualizações desde que foi publicado no YouTube no sábado. O documentário apresenta alegações segundo as quais pedófilos conhecidos foram transferidos entre paróquias para escapar de punição.
Um dos clérigos em destaque é Franciszek Cybula, que foi padre de Walesa durante 15 anos --de 1980, quando ele fundou o sindicato Solidarnosc, que ajudou a provocar a queda do Comunismo, até sua eleição como primeiro presidente polonês eleito democraticamente em 1990 e até o final de seu mandato, em 1995.
"É triste para mim descobrir que meu capelão, meu confessor, estava se comportando tão mal", disse Walesa, segundo uma declaração ao jornal Polska Times publicada nesta segunda-feira.
A Polônia é um dos países mais devotos da Europa, e os padres católicos desfrutam de grande prestígio social. Quase 85% dos 38 milhões de poloneses se identificam como católicos, e cerca de 12 milhões deles vão à missa aos domingos.
Mas o país não escapou dos escândalos de abusos sexuais que abalaram a reputação da igreja em todo o mundo, além das acusações de que clérigos de alto escalão ocultaram ou lidaram mal com os casos.
Em março, a Igreja Católica polonesa publicou um estudo segundo o qual, entre 1990 e 2018, suas autoridades receberam relatos de abuso sexual de 625 crianças vítimas de clérigos desde 1950, mais da metade delas de 15 anos ou menos.
"A igreja somos todos nós, deveríamos rezar por padres, e o alto clero, repito, precisa agir", disse Walesa, segundo o jornal.
O documentário do diretor Tomasz Sekielski ressuscitou o debate sobre os abusos sexuais na Igreja no momento em que a Polônia se prepara para as eleições do Parlamento Europeu entre 23 e 26 de maio.
As campanhas eleitorais têm sido marcadas pelo foco na religião e na sexualidade em meio às tensões entre liberais que acham que a Igreja detém poder demais na Polônia e o partido nacionalista governante Lei e Justiça (PiS), que considera a fé católica um elemento essencial da identidade nacional, cuja influência precisa ser protegida.
(Por Marcin Goclowski)