Por Ben Blanchard
PEQUIM (Reuters) - Da revolta dos Estados Unidos com sua falta de ação em relação à Coreia do Norte a uma disputa de fronteira com a Índia e a doença do Prêmio Nobel da Paz chinês Liu Xiaobo, a cúpula do G20 da semana passada estava repleta de minas terrestres para o presidente da China, Xi Jinping.
Por acaso ou por estratégia, Xi e seus assessores atravessaram o terreno minado intactos.
Pequim é ultrassensível quando se trata da imagem de Xi e de fazer com que ele receba o respeito que vê como devido por ele ser o líder de uma superpotência emergente, especialmente em viagem a países ocidentais onde não pode controlar a narrativa pública com tanto rigor.
Fontes diplomáticas na capital chinesa, que falaram antes da viagem de Xi para a reunião do G20 na cidade alemã de Hamburgo, disseram que, em particular, autoridades expressaram o temor de que Xi ouvisse perguntas difíceis sobre a Coreia do Norte ou sobre Liu, ativista preso por 11 anos em 2009 por "incitar a subversão do poder estatal" que sofre de um câncer.
No final dominaram os holofotes a reunião do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com seu colega russo, Vladimir Putin, em meio a acusações de que a Rússia interferiu na eleição dos EUA, e a recusa do norte-americano de voltar ao acordo climático de Paris.
Xi, em contraste, evitou polêmicas em seus encontros bilaterais, reafirmando o compromisso chinês com o pacto de Paris e com uma economia global aberta, no que o jornal oficial China Daily chamou de "lustrar (sua) reputação".
"Ninguém falou do Mar do Sul da China. Ninguém falou de comércio. Todos estavam contentes com Xi. Acho que ele se saiu bem", opinou Ulrich Speck, membro sênior do Instituto Real Elcano de Bruxelas.
"Todos os olhos estavam em Trump e Putin. Mas o fato de não ter havido nenhum confronto EUA-China foi ao menos igualmente importante. Xi ficou de fora da briga de machos alfa. A China se apresentou como uma parceira da Europa".
O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que Xi "deixou claro que o G20 deveria se ater a seguir o rumo do desenvolvimento aberto e dos benefícios mútuos que levam a resultados bons para todos, a apoiar um mecanismo comercial multilateral e a promover o comércio e o investimento internacionais".
"A China ficou em um bom lugar no G20, com políticas sensatas", afirmou Jin Canrong, da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Renmin da China, que aconselhou o governo a respeito de questões diplomáticas.
"Por isso o presidente Xi ficou à vontade e positivo lá".
(Reportagem adicional de Gao Liangping em Pequim, Roberta Rampton em Washington e Noah Barkin em Hamburgo)