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"Mar de corpos" em Israel, dezenas de mortos em Gaza, em guerra após ataques do Hamas

Publicado 07.10.2023, 16:08
Atualizado 07.10.2023, 16:10
© Reuters. REUTERS/Ashraf Amra

Por Maayan Lubell e Nidal al-Mughrabi e Ammar Awad

(Reuters) - Homens armados do grupo palestino Hamas percorreram cidades israelenses neste sábado, matando e capturando civis e soldados em um ataque surpresa, que Israel enfrentou com ataques aéreos de retaliação em massa que mataram muitos palestinos na Faixa de Gaza.

O pior ataque a Israel em décadas desencadeou uma guerra que ambos os lados prometem aumentar. Pelo menos 200 israelenses foram mortos e 1.100 ficaram feridos em tiroteios que ocorreram em mais de 20 locais dentro de Israel. Em Gaza, as autoridades de saúde informaram que mais de 230 pessoas foram mortas e 1.600 ficaram feridas.

"Nosso inimigo pagará um preço que jamais conheceu", disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. "Estamos em uma guerra e vamos vencê-la."

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, disse que o ataque que havia começado em Gaza se estenderá à Cisjordânia e a Jerusalém.

"Esta foi a manhã da derrota e da humilhação de nosso inimigo, de seus soldados e de seus colonos", disse ele em um discurso. "O que aconteceu revela a grandeza de nossa preparação. O que aconteceu hoje revela a fraqueza do inimigo."

Em Sderot, no sul de Israel, perto de Gaza, corpos de civis israelenses estavam espalhados em uma rodovia, cercados por vidros quebrados. Um casal estava morto nos bancos dianteiros de um carro. Um veículo militar passou pelos corpos de outra mulher e de outro homem caídos em uma poça de sangue atrás de outro carro.

"Saí e vi muitos corpos de terroristas, civis, carros alvejados. Um mar de corpos, dentro de Sderot, ao longo da estrada, em outros lugares, montes de corpos", disse Shlomi, de Sderot.

Israelenses aterrorizados, barricados em bunkers, relataram sua situação por telefone na TV ao vivo.

"Eles acabaram de entrar novamente, por favor, mandem ajuda", disse uma mulher identificada como Dorin ao canal israelense N12 News, de Nir Oz, um kibutz perto de Gaza. "Meu marido está segurando a porta fechada... Eles estão atirando."

Esther Borochov, que fugiu de uma festa atacada pelos atiradores, disse à Reuters que sobreviveu fingindo-se de morta em um carro depois que o motorista que tentava ajudá-la a escapar foi baleado à queima-roupa.

"Eu não conseguia mexer minhas pernas", disse ela à Reuters no hospital. "Os soldados vieram e nos levaram para os arbustos."

Em Gaza, a fumaça preta e as chamas alaranjadas se espalharam pelo céu noturno de uma torre alta atingida por um ataque de retaliação israelense. Multidões de pessoas em luto carregavam os corpos de militantes recém-mortos pelas ruas, envoltos em bandeiras verdes do Hamas.

Os mortos e feridos de Gaza foram levados para hospitais em ruínas e superlotados, com grave escassez de suprimentos e equipamentos médicos. O Ministério da Saúde informou que 232 pessoas foram mortas.

As ruas estavam desertas, com exceção das ambulâncias que corriam para os locais dos ataques aéreos. Israel cortou a energia elétrica, mergulhando Gaza na escuridão.

"DIA DA MAIOR BATALHA"

Ao cair da noite de sábado no sul de Israel, os moradores ainda não tinham recebido autorização para deixar os abrigos onde haviam se escondido dos atiradores desde as primeiras horas da manhã.

"Não acabou porque o (exército) ainda não disse que o kibutz está livre de terroristas", disse Dani Rahamim à Reuters por telefone, do abrigo onde ainda estava escondido em Nahal Oz, perto da cerca de Gaza. O tiroteio diminuiu, mas explosões regulares ainda podiam ser ouvidas.

O Hamas disse que disparou uma salva de 150 foguetes contra Tel Aviv na noite de sábado em retaliação a um ataque aéreo israelense que derrubou um prédio alto com mais de 100 apartamentos.

O vice-chefe do Hamas, Saleh al-Arouri, disse à Al Jazeera que o grupo estava mantendo um grande número de israelenses em cativeiro, incluindo oficiais de alto escalão. Ele disse que o Hamas tem prisioneiros suficientes para fazer com que Israel liberte todos os palestinos de suas prisões.

O exército israelense confirmou que israelenses estavam presos em Gaza. Um porta-voz militar disse que Israel poderia mobilizar até centenas de milhares de reservistas e que também estava preparado para a guerra em sua frente norte contra o grupo Hezbollah, do Líbano.

O Hamas, que defende a destruição de Israel, disse que o ataque foi motivado pelos ataques escalonados de Israel contra os palestinos na Cisjordânia, em Jerusalém e contra os palestinos nas prisões israelenses.

"Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação na Terra", disse o comandante militar do Hamas, Mohammad Deif, anunciando o início da operação em uma transmissão na mídia do grupo militante e convocando os palestinos de todos os lugares a lutar.

O Hamas já travou quatro guerras contra Israel desde que assumiu o controle de Gaza em 2007. Mas as cenas de violência dentro de Israel neste sábado foram diferentes de tudo o que se viu desde os atentados suicidas da Intifada palestina, há duas décadas.

O fato de Israel ter sido pego completamente desprevenido foi lamentado como uma das piores falhas de inteligência de sua história, um choque para uma nação que se vangloria de sua intensa infiltração e monitoramento de militantes.

Em Gaza, uma estreita faixa onde 2,3 milhões de palestinos se espremem sob o bloqueio israelense há 16 anos, os moradores correram para comprar suprimentos, antecipando os dias de guerra que estavam por vir. Alguns fugiram de suas casas e se dirigiram a abrigos.

Muitos palestinos foram mortos e centenas ficaram feridos em confrontos na fronteira com Israel, onde os combatentes capturaram o ponto de passagem e derrubaram as cercas. Alguns dos mortos eram civis, entre as multidões que tentaram atravessar para Israel através dos portões danificados.

"Estamos com medo", disse uma mulher palestina, Amal Abu Daqqa, à Reuters, ao sair de sua casa em Khan Younis.

BIDEN OFERECE APOIO A NETANYAHU

Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, denunciaram o ataque palestino e prometeram apoio a Israel.

"Deixei claro para o primeiro-ministro Netanyahu que estamos prontos para oferecer todos os meios apropriados de apoio ao governo e ao povo de Israel", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em um comunicado divulgado depois que os dois conversaram por telefone.

"Israel tem o direito de defender a si mesmo e a seu povo. Os EUA alertam contra qualquer outra parte hostil a Israel que busque vantagem nessa situação", acrescentou Biden.

O Brasil, que preside em outubro o Conselho de Segurança da ONU, afirmou que iria convocar uma reunião de emergência do grupo. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou os ataques do Hamas de atos terroristas e manteve a posição de defender a solução de dois Estados - de Israel e da Palestina - como forma de resolver as hostilidades.

Em todo o Oriente Médio, houve manifestações de apoio ao Hamas, com bandeiras de Israel e dos EUA incendiadas e manifestantes agitando bandeiras palestinas no Iraque, Líbano, Síria e Iêmen.

O ataque do Hamas foi abertamente elogiado pelo Irã e pelo Hezbollah, aliados libaneses do Irã.

O enviado da ONU para a paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, condenou os ataques a Israel, alertando em um comunicado: "Este é um precipício perigoso, e eu apelo a todos para que se afastem da beira do abismo."

CENÁRIO DE VIOLÊNCIA CRESCENTE

O banho de sangue ocorre em um cenário de violência crescente entre Israel e militantes palestinos na Cisjordânia cada vez mais ocupada pelos israelenses, onde a Autoridade Palestina exerce um autogoverno limitado, com a oposição do Hamas, que quer a destruição de Israel.

Na Cisjordânia, houve confrontos em vários locais no sábado, com jovens atirando pedras contra tropas israelenses. Quatro palestinos, incluindo um menino de 13 anos, foram mortos. As facções palestinas convocaram uma greve geral para o domingo.

Israel também vem passando por uma agitação política interna, com o governo mais à direita de sua história tentando reformar o judiciário.

© Reuters. REUTERS/Ashraf Amra

Enquanto isso, Washington vem tentando fechar um acordo que normalizaria os laços entre Israel e a Arábia Saudita, vista pelos israelenses como o maior prêmio em sua luta de décadas pelo reconhecimento árabe. Os palestinos temem que qualquer acordo desse tipo possa vender seus sonhos futuros de um Estado independente.

((Tradução Redação São Paulo, 55 11 56447753))

REUTERS AAJ

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