Por Morros Mac Matzen
KIEL, Alemanha (Reuters) - A chanceler Angela Merkel fez um ataque velado ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no 29º aniversário da reunificação alemã nesta quinta-feira, dizendo que os problemas econômicos no leste não são desculpa para o racismo.
Em um discurso de comemoração da data, Merkel citou um relatório encomendado pelo governo que mostrou disparidades econômicas entre as regiões oeste e leste da Alemanha e que apontou que os habitantes do leste se sentem cidadãos de segunda classe.
Mas ela disse que isso não justifica ataques verbais contra estrangeiros sob o disfarce da liberdade de expressão e que tais ataques ameaçam a democracia alemã. Pouco depois de sua fala, cerca de 600 pessoas participaram de um evento de extrema-direita em Berlim, algumas delas portando bandeiras alemãs e brandindo cartazes contra o islã.
Merkel não mencionou o partido anti-imigrante AfD pelo nome, mas este tem mais apoio em áreas do leste do país e obteve grandes avanços nas eleições de duas regiões no mês passado.
"Nunca deveria ser o caso de a decepção com a política, por mais significativa que seja, ser aceita como razão legítima para marginalizar, ameaçar ou atacar outros por causa da cor da pele, religião, gênero ou orientação sexual", disse a chanceler em Kiel, cidade do norte.
"Os valores de nossa Constituição precisam guiar todo e qualquer debate em nosso país", disse. "Em termos concretos isso significa 'sim' ao debate aberto, 'sim' a exigências duras aos políticos, 'não' à intolerância, 'não' à marginalização, 'não' ao ódio e ao antissemitismo, 'não' a viver à custa dos fracos e das minorias."
Os conservadores de Merkel e seus parceiros de coalizão social-democratas acusaram o AfD, o maior partido de oposição no Parlamento, de legitimar uma linguagem de ódio que incita a violência.
Eles disseram que o AfD manipula as queixas dos alemães do leste sobre salários e pensões mais baixos, um êxodo de jovens, planos para acabar com a indústria carvoeira gradualmente e o desafio de integrar um influxo recorde de refugiados para obter ganhos políticos através do populismo.
O AfD, que estreou no Parlamento dois anos atrás em eleições que foram definidas pelos receios da decisão tomada por Merkel em 2015 de acolher quase um milhão de imigrantes, diz que sempre se distanciou de extremistas violentos da extrema-direita.
"Todos nós precisamos entender por que a reunificação para muitas pessoas dos Estados do leste não é somente uma experiência positiva."