Por Andrew Osborn e Guy Faulconbridge
MOSCOU (Reuters) - Autoridades russas, do presidente Vladimir Putin para baixo, dizem que não faz diferença para Moscou quem vencerá a eleição presidencial nos Estados Unidos em 5 de novembro, no entanto, qualquer pessoa que assista à cobertura da mídia estatal guiada pelo Kremlin sobre a eleição dos EUA concluiria que Donald Trump é o grande preferido.
O principal programa de notícias da TV estatal russa, o Channel One, mostrou este mês um vídeo do bilionário Elon Musk e do apresentador de TV Tucker Carlson atacando a candidata democrata Kamala Harris antes de dar um zoom no que foi considerado uma série de tropeços dela.
A tendência de Kamala de ter acessos de riso, algo sobre o qual o próprio Putin falou sarcasticamente no mês passado, foi destaque nas transmissões e a TV estatal exibiu compilações de suas declarações menos eloquentes durante a campanha.
Em contrapartida, a mesma reportagem do Channel One retratou Trump e seu companheiro de chapa, JD Vance, como seguros e imbuídos de bom senso em tudo, desde a política de transgêneros até a imigração, mas enfrentando forças sinistras, como evidenciado pelos planos de assassinato contra o ex-presidente.
O Kremlin diz que a escolha de quem será o próximo presidente dos EUA é uma questão exclusiva do povo norte-americano e que trabalhará com quem quer que seja eleito.
O governo russo negou viés na cobertura estatal, embora alguns ex-funcionários da mídia estatal tenham falado publicamente sobre reuniões semanais do Kremlin nas quais são dadas orientações sobre diferentes questões.
A aparente preferência da mídia estatal por Trump pode não ser uma surpresa.
Trump tem apoiado muito menos abertamente a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia do que o atual presidente dos EUA, Joe Biden ou Kamala, o que gera temores em Kiev de perder seu aliado mais importante se Trump vencer.
Trump, que tem elogiado Putin repetidamente ao longo dos anos e se vangloria de ter uma boa relação de trabalho com ele, na semana passada culpou o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy por ajudar a iniciar a guerra.
Este mês, ele se recusou a confirmar os relatos de que havia conversado com Putin em várias ocasiões desde que deixou o cargo em 2021, dizendo apenas: "Se o fiz, foi uma coisa inteligente".
Kamala, por outro lado, chamou Putin de "ditador assassino", prometeu continuar apoiando a Ucrânia e disse que a morte do político da oposição Alexei Navalny foi "mais um sinal da brutalidade de Putin". O Kremlin negou qualquer participação na morte de Navalny.
A TV estatal russa tem apresentado com frequência palestrantes convidados em seus programas de entrevistas geopolíticas no horário nobre que expressam preferência por Trump, mesmo que seus motivos às vezes variem.
Andrei Sidorov, um acadêmico sênior da Universidade Estadual de Moscou, disse a um importante programa de entrevistas da TV estatal neste mês que Trump seria melhor para a Rússia porque ele provocaria divisões que poderiam desencadear uma fantasia de longa data dos falcões russos antiocidentais - a desintegração dos Estados Unidos durante brigas internas entre seus Estados constituintes.
"Sou a favor de Trump. Sempre fui a favor de Trump -- ele é um destruidor. Se ele for eleito..., a guerra civil estará realmente na ordem do dia", disse Sidorov, prevendo que uma vitória democrata levaria à continuação da mesma "porcaria" de agora.
"(Mas) Trump poderia realmente levar nosso adversário geopolítico ao colapso sem que nenhum míssil fosse disparado."
(Reportagem de Andrew Osborn, em Londres, e Guy Faulconbridge, em Moscou)