Por Lesley Wroughton e Andrea Shalal
WASHINGTON (Reuters) - Os ministros do Exterior de Holanda, Alemanha e Canadá manifestaram nesta quarta-feira preocupação com a escala da repressão feita pelas autoridades turcas depois da tentativa fracassada de golpe no país e fizeram um chamado para que a Turquia respeite o Estado de Direito.
“Temos preocupações sérias sobre a situação na Turquia”, disse o ministro do Exterior da Holanda, Bert Koenders, em entrevista em Washington. “Queremos enviar um sinal forte sobre a necessidade de se respeitar o Estado de Direito.”
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, anunciou nesta quarta-feira a decretação por três meses do estado de emergência para permitir às autoridades tomar ações rápidas e efetivas contra os responsáveis pela tentativa fracassada de golpe militar no último fim de semana.
O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, declarou que o seu governo via com preocupação os relatos de que milhares de pessoas foram presas na Turquia e algumas impedidas de deixar o país.
"Estamos vendo com preocupação as notícias de que milhares de pessoas foram despedidas e suspensas, incluindo soldados e juízes, de que professores universitários estão agora sendo impedidos de deixar o país, e de que emissoras estão sendo fechadas e tendo as suas licenças retiradas”, disse Steinmeier.
Entendemos, claro, que deve haver um processamento político e judicial sobre essa tentativa de golpe, mas ele deve ocorrer de acordo com critérios estabelecidos pelo Estado de Direito”, afirmou.
Os ministros falaram com a imprensa durante uma conferência de doadores para o Iraque.
Os líderes europeus também estão unidos na rejeição de planos para restabelecer a pena de morte na Turquia em resposta à tentativa de golpe, dizendo que tal medida poderia impedir o projeto turco de se juntar à União Europeia.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, foi mais cauteloso nos seus comentários, repetindo que Washington apoiou os esforços das autoridades turcas para reprimir o golpe e condenou qualquer iniciativa para derrubar um governo eleito de forma democrática.
Perguntado se a resposta inicial do governo turco ao golpe era excessiva, Kerry disse: “Não há maneira de nós sabermos, porque não sabemos quais são as evidências”, disse.
“Somos claros sobre o nosso desejo de ver a democracia sustentada e próspera na Turquia”, declarou ele, acrescentando que ao mesmo tempo os Estados Unidos querem assegurar que a resposta ao golpe respeite plenamente os princípios democráticos.
Kerry afirmou que a Turquia havia submetido material ao governo norte-americano sobre Fethullah Gulen, o clérigo que mora nos Estados Unidos acusado pelo presidente turco de planejar o golpe. Erdogan quer a extradição dele.
Gulen, ex-aliado de Erdogan, negou participação na tentativa de golpe e a condenou.
“Eles aparentemente submeteram algo, e sabemos que isso está a caminho para nós. Eu não vi ainda”, disse Kerry.
Ele afirmou que havia enfatizado para a Turquia que o país não deveria submeter alegações contra Gulen, e sim evidências do seu suposto envolvimento no golpe.
O ministro do Exterior canadense, Stephane Dion, seguiu a linha dos seus colegas holandês e alemão, e disse que o Canadá também havia recebido pedidos da Turquia antes e depois do golpe em relação a simpatizantes de Gulen morando no país.
"Nós pedimos evidências porque o sistema judiciário canadense não pode seguir com um tema com base em alegações”, declarou.
(Reportagem de Lesley Wroughton e Andrea Shalal; reportagem adicional de Yeganah Torbati)