Por Mitra Taj e Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, criticou nesta quinta-feira uma missão de observadores eleitorais da Organização dos Estados Americanos (OEA) por questionar a legitimidade do que afirma ter sido uma vitória incontestável no primeiro turno da eleição presidencial de domingo.
O líder de esquerda tem uma vantagem decisiva de 10 pontos sobre seu principal rival na contagem feita após a votação, o que provocou protestos e tumultos em cidades de toda a Bolívia, alguns dos quais com ataques a escritórios eleitorais, que foram incendiados.
Em uma coletiva de imprensa, Morales disse que observadores da OEA o caluniaram ao apontar o que a entidade classificou como "dúvidas sérias" sobre a eleição.
A equipe local da OEA recomendou que a Bolívia convoque um segundo turno, depois que uma interrupção inesperada da contagem e uma mudança súbita a favor de Morales motivaram alegações de fraude eleitoral por parte da oposição.
"Não quero pensar que a missão da OEA já esteja participando de um golpe de Estado", disse Morales, reiterando a acusação de que seu maior adversário, Carlos Mesa, está tentando roubar sua vitória.
"Existe um golpe de Estado (orquestrado) interna e externamente. A OEA como um todo deveria avaliar a si mesma, e também a missão que enviou", acrescentou.
A missão da OEA não respondeu de imediato a pedidos de comentário. Em um relatório preliminar, o grupo citou a suspensão de uma contagem inicial e a renúncia subsequente do vice-presidente da comissão eleitoral como fatos que prejudicaram a credibilidade do pleito.
Morales, que governa a Bolívia há quase 14 anos, já enfrentou acusações de autoritarismo por concorrer a um quarto mandato, em uma afronta aos limites de mandato e a um referendo nacional.
Mesa pediu que as marchas pacíficas continuem até Morales convocar um segundo turno, um gesto que uma aliança de autoridades regionais e outros líderes de oposição apoiaram nesta quinta-feira.
Mesmo que conquiste outro mandato de cinco anos, Morales provavelmente fará seu governo mais fragilizado e sem a maioria sólida com que contou até agora no Congresso.
"Não acho que ele conseguirá terminar o mandato. Não porque as pessoas se revoltarão contra ele, mas porque será difícil ele governar", disse Yerko Ilijic, uma analista político boliviano, à Reuters.
Morales disse que acolheria uma auditoria da OEA sobre a contagem final, mas exortou a entidade e a comunidade internacional a respeitarem a Constituição da Bolívia.
(Reportagem adicional da Reuters TV)