Por Mitra Taj
LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, estava a caminho de vencer uma disputa presidencial intensa, chegando a uma vantagem decisiva de 10 pontos sobre seu principal rival, Carlos Mesa, depois de acusar a oposição de tentar orquestrar um "golpe".
Atrasos durante a apuração após a votação de domingo e uma mudança repentina nos rumos do resultado ampliaram as tensões, resultando em protestos e marchas nas principais cidades de um dos países mais pobres da América do Sul.
Na noite de quarta-feira, com a apuração quase concluída, centenas de apoiadores da oposição agitando bandeiras protestaram do lado de fora do prédio do tribunal eleitoral em La Paz, cantando e disparando fogos de artifício.
Por volta da meia-noite na Bolívia, a contagem oficial mostrou que o esquerdista Morales, que governa a Bolívia há quase 14 anos, tinha 46,77% dos votos, com pouco mais de 98% da apuração concluída -- ficando 10 pontos à frente de Mesa.
Se Morales mantiver essa liderança, ele vencerá no primeiro turno e evitará uma segunda votação arriscada, em uma eleição que foi alvo de alegações de fraude.
Depois de todas as manifestações dos últimos dias, o clima na praça do lado de fora do tribunal eleitoral havia se tornado mais tumultuado do que violento, com pequenas fogueiras e principalmente jovens cantando que não queriam viver em uma ditadura.
"Evo acumulou poder demais. Veja tudo o que aconteceu, ele não quer sair", disse Franco Garcia, de 21 anos, acrescentando que votou em Mesa, um ex-presidente, porque seria mais fácil derrubá-lo se necessário. "Se continuarmos com Evo, algo como a Venezuela nos espera. Ele tem muito poder".
Os distúrbios --os piores do governo de Morales desde que ele chegou ao poder em 2006-- podem se espalhar se a vitória for confirmada, depois que monitores internacionais, governos estrangeiros e a oposição pediram a Morales que realizasse um segundo turno.
As tensões começaram depois que uma contagem oficial rápida de votos foi interrompida por um dia, a partir da noite de domingo, quando os resultados preliminares de quase 84% das urnas mostravam os dois principais rivais no segundo turno.
A Organização dos Estados Americanos questionou a contagem e citou uma mudança "drástica" e inexplicável na votação, que, segundo a OEA, prejudicou a confiança dos eleitores no processo eleitoral.
Vários governos estrangeiros, incluindo Estados Unidos, Brasil e a União Europeia, também expressaram preocupação com a integridade da votação. Em uma reunião na quarta-feira, a OEA recomendou a realização do segundo turno, mesmo que Morales alcançasse uma vantagem de 10 pontos.