Por Akiko Okamoto
TÓQUIO (Reuters) - Terumi Tanaka tinha 13 anos quando um avião norte-americano soltou uma bomba de plutônio na cidade japonesa de Nagasaki, sul do país, em 9 de agosto de 1945.
Em casa naquela manhã, lendo um livro, Tanaka percebeu imediatamente, quando os arredores ganharam uma brilhante cor branca, que o bombardeiro não era apenas mais um dos ataques aéreos com os quais ele havia se acostumado nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial.
“Senti que era algo terrível, então corri para baixo e me abaixei, cobri meus ouvidos e fechei meus olhos”, disse Tanaka, agora aos 88 anos, à Reuters. “E, naquele momento, fiquei inconsciente.”
A apenas 3,2 quilômetros do epicentro, Tanaka milagrosamente não sofreu ferimentos, assim como sua mãe e duas irmãs. O pai de Tanaka havia ficado doente e morrido anteriormente.
O avô, a tia e o tio de Tanaka não tiveram tanta sorte.
Três dias depois de a bomba que pesava 4,5 quilos, apelidada de “Fat Man” (Homem Gordo), explodir sobre a cidade, Tanaka se aventurou ao epicentro para checar como estavam seus parentes.
Foi apenas naquele momento que percebeu o tamanho da calamidade.
Prédios da cidade haviam sido reduzidos a pilhas de destroços e metais torcidos, uma grande faixa de terra estava varrida e corpos e vítimas queimadas, com a carne descascando de seus corpos, espalhavam-se pelo chão. Seu avô era um deles. Tanaka pressionou um lenço molhado em sua boca, que parecia silenciosamente implorar por água. Foi o último encontro entre eles.
Três dias depois do ataque com a bomba em Hiroshima, a explosão de Nagasaki matou 27 mil pessoas instantaneamente e mais de 70 mil até o fim daquele ano. O Japão se rendeu seis dias depois.
Por quase 50 anos, Tanaka tem falado sobre desarmamento nuclear, torcendo para que sua experiência como testemunha de uma das duas únicas bombas nucleares utilizadas em conflito sirva para impedir o seu uso novamente.
No 75º desde o fim da guerra, a pandemia de coronavírus atrapalhou alguns eventos importantes, como uma exibição em Nova York que Tanaka ajudou a organizar.
Em vez disso, Tanaka, que foi chefe do grupo de vítimas “Hidankyo” durante mais de 20 anos, levou sua mensagem à internet, com o benefício inesperado de alcançar uma audiência mais ampla.
Mas ele teme que o tempo esteja acabando.
“Depois de que todos os sobreviventes da bomba atômica morrerem, estou preocupado que as pessoas não consigam realmente entender pelo que passamos”, disse.