Por Ahmed Rasheed e John Davison
BAGDÁ (Reuters) - O saldo de mortes após dias seguidos de manifestações violentas no Iraque subiu para 46 nesta sexta-feira, a maioria nas últimas 24 horas, quando os tumultos se aceleraram rapidamente, e o clérigo mais poderoso do país colocou a culpa nos ombros dos políticos.
Em uma rara intervenção, o grande aiatolá Ali al-Sistani, cuja palavra é lei para a maioria dos xiitas majoritários do Iraque, pediu aos manifestantes e às forças de segurança que evitem a violência, mas também ordenou que as facções políticas respondam às exigências feitas nos protestos.
"É lamentável que tenha havido tantas mortes, baixas e destruição", disse Sistani em uma carta lida por seu representante durante um sermão.
"O governo e as partes políticas não responderam às exigências do povo para que combatam a corrupção nem fizeram nada no país", disse. "O Parlamento é o maior responsável pelo que está acontecendo".
Em um pronunciamento feito na televisão de madrugada, o primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi disse que entende a frustração do público, mas que não existe "solução mágica" para os problemas do país. Ele prometeu reformas, mas estas foram desdenhadas pelos manifestantes.
"As promessas de Adel Abdul Mahdi são para enganar o povo, eles estão disparando munição letal contra nós", disse um jovem em um pequeno grupo que fugiu de disparos em uma grande praça do centro de Bagdá na quinta-feira.
"Hoje este foi um protesto pacífico. Eles montaram estas barricadas e o franco-atirador está sentado bem ali desde a noite passada".
As manifestações violentas vêm se intensificando diariamente desde que irromperam na terça-feira e se espalhando pelo país de forma espontânea, sem apoio público de nenhum grupo político organizado e pegando as autoridades de surpresa.
As forças de segurança usaram munição letal contra as multidões majoritariamente de jovens, e homens armados revidaram. Centenas de pessoas ficaram feridas, inclusive membros das forças de segurança e manifestantes.