Por Rich McKay e Nathan Layne
ATLANTA (Reuters) - Em uma homenagem póstuma emocionada ao veterano deputado norte-americano John Lewis nesta quinta-feira, o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama fez uma série de críticas veladas a ações de seu sucessor, Donald Trump, que, segundo ele, rasgam o legado do ícone negro dos direitos civis que morreu aos 80 anos.
O funeral de Lewis, que desempenhou um papel fundamental na aprovação do Ato de Direitos Eleitorais de 1965, aconteceu no mesmo dia em que Trump sugeriu que as eleições de 3 de novembro sejam adiadas. Trump também declarou guerra à votação pelo correio, uma tática que, segundo seus críticos, tem o objetivo de suprimir votos.
"Nós não temos mais que adivinhar o número de balinhas em uma jarra para conseguirmos votar", disse Obama em seu discurso de homenagem, em referência à maneira em que as pessoas negras tinham seu direito ao voto negado.
"Mas mesmo enquanto estamos aqui, há aqueles no poder que estão fazendo o pior que podem para desencorajar as pessoas que estão votando ao fechar zonas eleitorais e afetando minorias com leis de restrição de identidades e atacando nossos direitos de voto com precisão cirúrgica", afirmou.
Obama também se referiu às medidas relatadas para prejudicar "o serviço postal às vésperas das eleições, que podem depender dos votos por correspondência para que pessoas não adoeçam" devido à pandemia de coronavírus.
Obama, que esteve no funeral com dois ex-presidentes, o republicano George W. Bush e o democrata Bill Clinton, falou da origem humilde de Lewis em uma fazenda em Troy, no Alabama, de sua trajetória até se tornar um líder na luta por direitos iguais dos norte-americanos negros nos anos 1960.
No final das contas, o homem conhecido como "a consciência do Congresso" nunca deixou de lado sua motivação para causar "boas encrencas" em nome da Justiça, disse Obama.
Obama e outros falaram e cantaram em frente ao caixão, coberto com uma bandeira norte-americana, na histórica Igreja Batista Ebenezer, onde o reverendo Martin Luther King Jr. pregava. King, assassinado em 1968, foi o mentor de Lewis.
Lewis, eleito pela primeira vez em 1986 para representar o Estado da Geórgia na Câmara dos Deputados dos EUA, morreu no dia 17 de julho, aos 80 anos, após uma batalha contra um câncer no pâncreas.
A morte aconteceu em um momento de profundas discussões em todo o país sobre injustiças raciais, motivadas pelo assassinato de George Floyd em Mineápolis em maio.
(Reportagem de Rich McKay, em Atlanta, e Nathan Layne, em Wilton, Connecticut)