Por Noah Barkin
BERLIM (Reuters) - Figura de vulto na política europeia do pós-guerra, Helmut Kohl levou adiante a reunificação da Alemanha e foi um dos impulsionadores do euro durante um governo de 16 anos como chanceler alemão que cobriu as tumultuadas décadas finais do século 20.
Kohl morreu na manhã desta sexta-feira em sua casa de Ludwigshafen, de acordo com a mídia alemã, aos 87 anos de idade.
Homem de grande porte, cujos sotaque provinciano e estilo despretensioso levaram opositores a subestimá-lo em seus primeiros anos, Kohl era um defensor apaixonado da integração europeia cuja perspectiva foi forjada pelas duas guerras mundiais que devastaram a Europa e clamaram as vidas de seu irmão e tio.
Juntamente com o presidente francês François Mitterrand, o socialista enigmático com o qual desenvolveu laços pessoais improváveis, Kohl ajudou a dar um rumo pacífico para o continente durante o apagar das luzes da União Soviética, quando as fundações da ordem europeia do pós-guerra desmoronaram e tiveram que ser reassentadas.
Comprometendo-se a ancorar a Alemanha dentro da Europa por meio de uma moeda comum, ele superou a resistência à reunificação alemã tanto de Mitterrand como do líder soviético Mikhail Gorbachev e de Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica que temia o retorno de uma Alemanha unida e poderosa.
Em um tributo de 2012, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton descreveu Kohl como um dos estadistas que definiram a Europa do pós-guerra. "Sua visão ajudou a conduzir a comunidade global para o século 21, a construir relacionamentos ousados e duradouros que duram até hoje", disse Clinton.
Apesar de todas as suas realizações como chanceler, a vida de Kohl foi eclipsada por polêmicas e uma tragédia pessoal depois que ele deixou o posto, em 1998, como líder alemão mais longevo na função desde Bismarck.
Em 2000 ele foi obrigado a renunciar à Presidência honorária da União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), partido que liderou durante 25 anos, depois de admitir ter recebido um milhão de dólares de doações de dinheiro ilegais durante seu tempo como chanceler, que cedeu a organizações partidárias locais segundo seus caprichos.
Um ano depois de ser tirado do cargo pelo CDU, sua primeira esposa, Hannelore, que sofria de uma alergia à luz debilitante, cometeu suicídio.
A maior conquista de Kohl, a reunificação alemã, parece ainda mais bem-sucedida atualmente do que em suas primeiras décadas. O leste da Alemanha ainda está atrás do oeste em muitas medidas econômicas, mas essa diferença está diminuindo, e cidades como Leipzig e Dresden estão florescendo.
Vinte e sete anos depois de oriente e ocidente terem se fundido, a Alemanha é próspera e cada vez mais influente na arena internacional.
Mas hoje alguns alemães culpam Kohl por buscar o euro sem insistir primeiro em uma integração política e fiscal maior – uma decisão que a atual chanceler, Angela Merkel, classificou como um erro épico.
(Reportagem adicional de Erik Kirschbaum)