Por Tom Miles
GENEBRA (Reuters) - A saída dos Estados Unidos do acordo global do clima de Paris pode causar uma elevação de 0,3 grau Celsius nas temperaturas globais até o final do século no pior dos casos, disse uma autoridade da Organização Meteorológica Mundial (OMM) nesta sexta-feira.
Deon Terblanche, diretor de Departamento de Pesquisa Atmosférica e Ambiental da OMM, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), disse que o dado é uma estimativa, uma vez que não foi realizado ainda nenhum modelo climático para medir o impacto da decisão anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quinta-feira.
"Isto é 0,3 grau adicional no aquecimento, devido à saída dos EUA", disse Terblanche em um boletim periódico em Genebra. "Esse é o pior cenário, e provavelmente não é o que irá acontecer".
O acordo de Paris, assinado por quase 200 países em 2015, foi concebido para limitar o aquecimento global a 2 graus ou menos até 2100, principalmente por meio de metas de corte de dióxido de carbono e outras emissões da queima de combustíveis fósseis.
A ONU descreveu a decisão de Trump como "uma grande decepção para os esforços globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e incentivar a segurança global".
Indagado se Trump está certo ao dizer que os EUA continuarão a ser o país com a melhor postura ambiental do mundo, Terblanche respondeu que o anúncio do presidente foi complexo e que exigirá algum tempo para ser analisado.
"Em nível pessoal estamos preocupados, como organização provavelmente não estamos tão preocupados assim", disse Terblanche.
Trump argumentou que o rompimento dos EUA faz sentido do ponto de vista econômico e que terá um impacto mínimo no meio ambiente, mas não negou explicitamente que as emissões de carbono geradas pelas atividades humanas estão causando a mudança climática.
"Dentro do governo Trump obviamente há membros de destaque do governo que disseram muito abertamente que a mudança climática é real, está acontecendo e é um grande problema que não irá desaparecer se o ignorarmos", disse a porta-voz da OMM, Clare Nullis.
"Temos interações diárias com cientistas dos EUA, trabalhamos muito, muito de perto com eles em todos os níveis. Eles são alguns dos cientistas mais destacados do mundo. Agora, mais do que nunca, é vital que a ciência contribua para a tomada de decisões", acrescentou.