Por Michelle Nichols e Idrees Ali
NAÇÕES UNIDAS/WASHINGTON (Reuters) - A ONU planejou novas rotas na Faixa de Gaza para transportar auxílio humanitário a partir de um píer flutuante construído pelos EUA, após multidões de palestinos desesperados interceptarem 11 caminhões, o que causou uma paralisação nas entregas que completou o terceiro dia nesta terça-feira.
O píer temporário foi ancorado em uma praia de Gaza na última quinta-feira, no momento em que Israel é cada vez mais pressionado globalmente para permitir a entrada de mais suprimentos ao enclave, onde trava uma guerra com os militantes palestinos do Hamas.
As operações começaram na sexta-feira e dez caminhões de auxílio foram pilotados por prestadores de serviço da ONU a um armazém do Programa Alimentar Mundial em Deir El Balah, em Gaza. Porém, no sábado, apenas cinco caminhões chegaram ao armazém, após outros 11 terem sido interceptados.
“As multidões pararam os caminhões em vários pontos ao longo do caminho. Houve… o que eu acho que chamaria de auto-distribuição”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, a repórteres em Nova York, na terça-feira.
“Esses caminhões estavam viajando por várias áreas onde não havia auxílio. Eu acho que as pessoas tinham medo de nunca ver auxílio. Elas agarraram o que puderam”, afirmou.
A distribuição foi pausada enquanto a ONU planejava novas rotas e a coordenação de entregas, em uma tentativa de impedir que mais auxílio humanitário fosse interceptado, disse Abeer Etefa, um porta-voz do programa no Cairo.
“As missões foram planejadas para hoje usando novas rotas para evitar as multidões”, disse. Dujarric posteriormente afirmou que não houve transporte de auxílio do píer desde sábado.
“ESPERANDO AUXÍLIO NORTE-AMERICANO”
O píer foi recebido com esperança e ceticismo pelos moradores de Gaza. A operação -- anunciada pelo presidente norte-americano Joe Biden em março -- tem um custo estimado de 320 milhões de dólares e envolve 1.000 militares dos EUA.
“O píer deveria estar lá quando a ocupação (israelense) terminar completamente. Então, será bom para nós. Será bom viajar, pegar as coisas”, disse Abu Nadi al-Haddad, questionando por que ele é necessário neste momento, se existem várias passagens por terra.
Outro morador, Abu Nasser Abu Khouse, foi até a estrada costeira próxima a onde o píer está localizado com seu filho de quatro anos e uma carroça puxada por um burro, esperando receber auxílio.
“Estamos esperando o auxílio norte-americano, mas não conseguimos nada”, disse, acrescentando que perdeu sua casa na guerra e foi deslocado várias vezes. “Voltaremos amanhã. Se Deus quiser, esperando conseguir algum auxílio que nos ajudará a sobreviver.”
Autoridades dos EUA disseram que, quando o píer estiver em funcionamento, lidará com 90 caminhões por dia em um primeiro momento, mas que esse número pode chegar a 150. A ONU disse que pelo menos 500 caminhões por dia precisam entrar em Gaza.
(Reportagem de Aidan Lewis, Michelle Nichols, Idrees Ali e Phil Stewart)