SANTIAGO (Reuters) - Milhares de fiéis chilenos e de países vizinhos se preparavam desde cedo nesta terça-feira para escutar à primeira mensagem do papa Francisco na capital chilena, que terá a missão de restaurar a credibilidade da Igreja Católica em um país afetado por abusos sexuais de membros do clero.
Os escândalos levaram a algumas manifestações planejadas contra a presença do pontífice, que chegou na segunda-feira ao Chile para uma visita de quatro dias, nos quais irá se dirigir não só a católicos mais fervorosos, mas também a indígenas e imigrantes que pedem um tratamento mais justo em um país onde a desigualdade é um persistente flagelo.
Desde a madrugada, milhares de devotos católicos acamparam com sacos de dormir e cobertores no Parque O’Higgins, uma das maiores áreas arborizadas de Santiago, para escutar à primeira grande missa do papa, que terá presença de até 500 mil pessoas.
"Saímos muito cedo, viajamos de San Francisco de Mostazal (ao sul de Santiago), chegamos à 4h da manhã na entrada no parque. Chegamos aqui e não nos movemos mais", disse Angelina Soto, dona de casa de 67 anos, que viajou com sua filha e sua irmã.
"Acredito que isto vai mudar um pouco a comunidade dos chilenos, para que sejamos mais generosos, que a brecha social diminua um pouco, é o mais feio aqui no Chile", acrescentou.
O primeiro papa latino-americano, que nasceu na Argentina e viveu cerca de um ano no Chile durante sua juventude, admitiu no voo a Santiago que sente proximidade com o país, onde irá permanecer até quinta-feira, para então viajar ao Peru.
Esta é a segunda visita de um papa ao país majoritariamente conservador. O papa João Paulo 2º visitou o país em 1987, no rescaldo da ditadura de Augusto Pinochet, uma época marcada por violações dos direitos humanos e pela pobreza.
Mas agora Francisco visita uma nação que busca alcançar o matrimônio igualitário, igualdade para as mulheres, respeito à identidade de gênero e à imigração, através de iniciativas impulsionadas pela presidente socialista Michelle Bachelet.
E também onde os católicos se reduziram em quase um terço nas últimas duas décadas, segundo pesquisa da Latinobarómetro.
Antes da grande missa às 10h30, no horário local, Francisco irá visitar o palácio presidencial, onde irá fazer sua primeira mensagem à nação. Foram convidados à cerimônia autoridades de diferentes poderes do Estado e também o presidente eleito, o multimilionário de centro-direita Sebastián Piñera, que irá assumir em março.
Depois o pontífice e Bachelet terão uma reunião particular.
Para a mesma hora em que o papa participa dos atos no Palácio de La Moneda, grupos e minorias convocaram uma marcha pelos pobres e para se queixarem dos quase 17 milhões de dólares em gastos com segurança, logística e organização para a visita de Francisco.
Na madrugada desta terça-feira, duas capelas no sul de Cunco, na região de Araucanía, foram destruídas e outra paróquia em Santiago também foi atacada.
(Reportagem de Antonio de la Jara, Felipe Iturrieta e Jorge Veja)