Por Philip Pullella e Yimou Lee
YANGON (Reuters) - O papa Francisco se reuniu com o chefe militar de Mianmar nesta segunda-feira, no início de uma visita delicada do líder da Igreja Católica à majoritariamente budista Mianmar, que os Estados Unidos acusaram de realizar uma "limpeza étnica" contra sua população de muçulmanos rohingyas.
O papa também visitará Bangladesh, para onde mais de 620 mil rohingyas fugiram para escapar do que a Anistia Internacional qualificou como "crimes contra a humanidade".
O Exército de Mianmar negou as acusações de assassinato, estupro, tortura e deslocamento forçado.
O primeiro encontro do papa em Yangon foi com o comandante militar, general Min Aung Hlaing, na catedral de St. Mary, no coração da maior cidade do país do Sudeste Asiático.
"Eles discutiram a grande responsabilidade das autoridades do país neste momento de transição", disse o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, após os 15 minutos de conversa, que foram seguidos por uma troca de presentes.
Francisco deu ao general uma medalha comemorativa de sua visita, e Min Aung Hlaing presenteou o papa com uma harpa na forma de um barco e uma tigela de arroz ornamentada, segundo Burke.
O chefe do Exército disse ao papa que "não há discriminação religiosa em Mianmar e há liberdade de religião", de acordo com uma nota na página do Facebook de Min Aung Hlaing. "O objetivo de todo soldado é construir um país estável e pacífico", afirmou o chefe do Exército no comunicado.
Minorias étnicas com vestimentas tradicionais receberam o pontífice no aeroporto de Yangon, e crianças o presentearam com flores quando ele desceu do avião.
Ele acenou por uma janela aberta para dezenas de crianças que portavam bandeiras do Vaticano e de Mianmar usando camisetas com o bordão da viagem – "amor e paz" – quando partiu em um Toyota azul rumo à Catedral de Santa Maria, no centro da cidade.
Só cerca de 700 mil dos 51 milhões de habitantes de Mianmar são católicos. Milhares deles viajaram de trem e ônibus para Yangon e se juntaram a multidões reunidas em vários pontos do trajeto iniciado no aeroporto para ter um vislumbre de Francisco.
"Viemos aqui ver o Santo Padre. Acontece uma vez em séculos", disse Win Min Set, líder comunitário que levou um grupo de 1.800 católicos de Estados do sul e do oeste do país.
"Ele é muito esclarecido quando se trata de questões políticas. Vai lidar com a questão com esperteza", disse, referindo-se à sensibilidade dos debates do papa sobre os rohingyas.
Muitos policiais do batalhão de choque foram mobilizados na principal cidade da nação, mas não houve sinais de protestos.
A viagem é tão delicada que alguns assessores papais aconselharam Francisco a não usar a palavra "rohingya" para evitar um incidente diplomático que poderia virar o governo e os militares contra a minoria cristã.
O êxodo dos rohingyas do Estado de Rakhine para Bangladesh começou no final de agosto, quando militantes rohingyas atacaram postos de segurança e o Exército de Mianmar lançou uma contra-ofensiva.
O país não reconhece os rohingyas como cidadãos ou membros de um grupo étnico distinto com identidade própria e rejeita até o termo "rohingya" e seu uso.