Por Brad Brooks
SÃO PAULO (Reuters) - Dois membros da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos perguntaram à Organização Trump se estava ciente de alegações de que corretores imobiliários e investidores envolvidos com o projeto Trump Ocean Club, no Panamá, tinham ligações com lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
Os deputados democratas Eliot Engel e Norma Torres enviaram a carta, vista pela Reuters, ao conselheiro-geral da Organização Trump, Alan Garten, na noite de quarta-feira.
Eles perguntaram qual auditoria foi feita sobre os investidores e corretores envolvidos no projeto, que rendeu entre 30 milhões e 50 milhões de dólares ao presidente norte-americano, Donald Trump, por emprestar seu nome ao empreendimento, de acordo com registros judiciais.
Garten escreveu em um email na quinta-feira que não tinha recebido a carta de Torres e Engel.
Torres e Engel basearam, em grande parte, as perguntas de sua carta nas descobertas de uma investigação da Reuters sobre o Trump Ocean Club publicada em novembro, em conjunto com a emissora norte-americana NBC News.
"Considerando as amplamente divulgadas alegações de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas em conexão com o Trump Ocean Club Panama, nós acreditamos ser imperativo entender o conhecimento e o papel da Organização Trump nas vendas desta propriedade", escreveram os deputados.
Eles perguntaram se a Organização Trump em algum momento ficou ciente de que "qualquer agente ou investidor envolvido com o Trump Ocean Club estava envolvido com lavagem de dinheiro ou tráfico ilegal de narcóticos", e, em caso positivo, se eles haviam relatado o caso a autoridades dos Estados Unidos ou do Panamá e encerrado acordos comerciais com qualquer indivíduo suspeito.
A investigação da Reuters descobriu que o brasileiro Alexandre Ventura Nogueira foi responsável por entre um terço e a metade das pré-vendas do projeto Trump Panama, concluído em 2011.
Nogueira está sob investigação no Brasil por lavagem de dinheiro internacional. O inquérito começou em 2013 depois que a unidade de crimes financeiros do Ministério da Fazenda identificou diversas transferências de mais de 1 milhão de reais de contas no Panamá para suas contas no Brasil.
Em entrevista à Reuters em novembro, Nogueira negou ter cometido qualquer infração no Brasil.
Ele disse que descobriu apenas depois que o projeto Trump Ocean Club estava quase concluído que alguns de seus parceiros e investidores no empreendimento eram criminosos, incluindo alguns com o que ele descreveu como conexões com a "máfia russa".
Nogueira, cujo paradeiro é desconhecido, disse não ter lavado qualquer dinheiro ilícito por meio do projeto Trump conscientemente, embora tenha dito que lavou dinheiro posteriormente em outros esquemas para autoridades panamenhas corruptas.
Em novembro, Garten disse: "Ninguém da Organização Trump, incluindo a família Trump, tem qualquer lembrança de ter conhecido ou conversado com este indivíduo".
Torres e Engel escreveram em sua carta que obter respostas da Organização Trump sobre o projeto Panama é "essencial, à medida que conduzimos supervisão da política dos EUA em relação à América Latina e ao Caribe".
Eles disseram querer garantir que Trump esteja "completamente comprometido com o objetivo de desmantelar as organizações criminosas transnacionais que são responsáveis por traficar drogas para os Estados Unidos".
"Se o presidente, em uma função prévia, não tomou passos razoáveis para prevenir a lavagem de dinheiro de drogas, seria de grande preocupação para nós", disseram os políticos na carta.