Por Luis Jaime Acosta
BOGOTÁ (Reuters) - Membros das Forças Armadas da Colômbia estão preocupados com a possibilidade de enfrentar mudanças significativas se o candidato de esquerda Gustavo Petro vencer a eleição presidencial deste mês, disseram à Reuters mais de uma dezena de oficiais da ativa e da reserva.
Os militares colombianos combatem movimentos de guerrilha há décadas e têm um papel de longa data na guerra às drogas dos Estados Unidos. Grandes mudanças afetariam potencialmente a cooperação internacional contra a produção de cocaína, disseram militares da ativa que não quiseram ser identificados porque não estavam autorizados a falar sobre eleições.
A Colômbia deve gastar 12% de seu orçamento de 2022 --equivalente a 11 bilhões de dólares-- em defesa, o segundo maior da América Latina depois do Brasil.
Petro, um crítico do establishment militar e ex-membro do grupo guerrilheiro M-19, prometeu que os militares acusados de violações de direitos humanos serão julgados em tribunais regulares, em vez das cortes militares que tradicionalmente distribuem sentenças mais leves.
Ele também promete uma reestruturação total da polícia, incluindo o desmantelamento de seu criticado esquadrão de choque.
"A função do Exército é defesa e a função da polícia é proteger direitos e liberdades", disse Petro à Reuters em entrevista na semana passada, acrescentando que planeja profissionalizar as Forças Armadas encerrando o serviço militar obrigatório para homens.
Nos últimos anos, os militares colombianos enfrentaram um julgamento público sobre uma de suas mais notórias violações de direitos humanos, o escândalo do "falso positivo", no qual soldados assassinaram mais de 6.000 pessoas e as registraram como guerrilheiros mortos em combate para ganhar promoções.
Petro, que ficou preso por 16 meses em 1985 e alega ter sido torturado pelos militares, disse que fará uma "mudança radical" no sistema de promoções dentro das Forças Armadas para torná-lo baseado no mérito.
Os planos de Petro contrastam fortemente com os de seu rival --o empresário Rodolfo Hernández-- que diz que vai modernizar equipamentos militares, apoiar operações conjuntas, aumentar salários e expandir o treinamento em direitos humanos.
Alguns políticos e empresários temem que o potencial triunfo de Petro possa desencadear um motim entre os militares, mas onze oficiais da ativa do Exército, Força Aérea, Marinha e polícia que falaram à Reuters descartaram essa possibilidade.
"Quem for eleito presidente, todas as tropas, do soldado mais humilde ao general mais graduado, o reconhecerão", disse um general do Exército com 35 anos de experiência militar. "Aqueles que não estão de acordo ou se sentem desconfortáveis, sua única opção é a reserva."
"Não há muito que as Forças Armadas possam fazer além de cumprir as ordens (do vencedor)", afirmou John Marulanda, antigo coronel do Exército que é presidente da associação de oficiais militares reformados.
Uma fonte da polícia e um oficial do Exército disseram à Reuters que quando Petro foi prefeito de Bogotá, ele era muito respeitoso em sua interação com eles.