Por Anthony Boadle
PACARAIMA, Roraima (Reuters) - A única passagem de fronteira oficial entre o Brasil e a Venezuela, em Pacaraima (RR), ficou fechada por semanas até ser reaberta nesta sexta-feira, mas a pouco mais de um quilômetro e meio, um fluxo constante de imigrantes e traficantes continuou a cruzar o limite entre os dois países – a um preço.
Todos os dias, centenas de venezuelanos subornam agentes de fronteira venezuelanos para entrar no Brasil por antigas trilhas indígenas que cruzam o campo, de acordo com o relato de dezenas de migrantes e de dois ex-agentes da Guarda Nacional da Venezuela.
Muitos dos que usam as trilhas fogem da crise na terra natal em busca de uma vida melhor fora do país. Outros estão simplesmente querendo comprar comida, remédios e itens básicos não disponíveis na Venezuela, disseram.
A única passagem oficial entre os dois países foi fechada em fevereiro pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro com o objetivo de bloquear uma tentativa da oposição de trazer para o país via Colômbia e Brasil carregamentos de ajuda enviados pelos EUA. A passagem foi reaberta nesta sexta pelo governo venezuelano.
O líder da oposição venezuelana Juan Guaidó tem pedido aos militares que derrubem Maduro, a quem chama de ditador, enquanto o governo em troca diz que Guaidó é um fantoche de Washington e incentivador de um golpe.
Numa Venezuela com cerca de 25 por cento dos 30 milhões de habitantes em necessidade de ajuda humanitária devido ao colapso econômico, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as travessias ilegais na fronteira continuam a ser uma linha de vida para muitos venezuelanos.
Os imigrantes entrevistados pela Reuters disseram que os soldados da Guarda Nacional da Venezuela tiraram vantagem do fechamento da fronteira, cobrando 50 reais por carro na passagem paralela. A tarifa é maior para os veículos que voltam cheios com arroz, farinha e açúcar, contaram.
Os que não têm o dinheiro para bancar a passagem ilegal devem percorrer trilhas ainda mais longas, carregando sua bagagem a pé por até seis horas numa árdua caminhada testemunhada pela Reuters.
“Usando uniformes venezuelanos, eles exigem dinheiro descaradamente até para a passagem a pé. Eles estão se aproveitando”, disse Yeral Garate enquanto esperava, junto com cinco outros imigrantes famintos, o arroz cozinhar em uma fogueira na trilha, já em território brasileiro.
O governo da Venezuela e a Guarda Nacional, a cargo do controle de fronteira, não responderam os pedidos de comentário.
Maduro disse no passado que as críticas aos militares está ligada aos esforços da oposição para macular as Forças Armadas.
Mais de 3,4 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015 devido à crise política e econômica, de acordo com a ONU. Garate disse que a falta de comida e medicamentos, os salários miseráveis e as políticas “catastróficas” de Maduro o fizeram fugir do país.
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447759)) REUTERS ES