Por Patricia Zengerle e Emily Stephenson
WASHINGTON/DELAWARE (Reuters) - Vários republicanos proeminentes repudiaram nesta quinta-feira a recusa de Donald Trump de se comprometer a aceitar o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos, e alguns temem que sua postura torne mais difícil para seu partido manter o controle do Congresso.
A recusa de Trump, que sua rival democrata Hillary Clinton chamou de "horrorosa", foi o comentário que mais se destacou no terceiro e último debate dos adversários na noite de quarta-feira, e elevou o tom dos clamores do magnata de que a eleição está sendo manipulada contra ele, tornando-se a polêmica mais recente de uma corrida eleitoral anormalmente volátil três semanas antes de os eleitores irem às urnas.
O candidato republicano reiterou seu comentário em um comício em Delaware, no Estado de Ohio, nesta quinta-feira, dizendo que irá respeitar o resultado "se eu vencer".
"Eu aceitaria um resultado eleitoral claro, mas também gostaria de reservar o meu direito de contestar ou apresentar uma ação legal no caso de um resultado questionável", disse Trump em um comício em Ohio.
Como Trump aparece atrás nas pesquisas de opinião, o foco às vésperas da votação está mudando para o Congresso e a dúvida sobre a capacidade dos republicanos de preservarem sua pequena maioria no Senado ou mesmo sua vantagem ainda maior na Câmara dos Deputados.
O senador John McCain, do Arizona, que perdeu a corrida presidencial de 2008 para o democrata Barack Obama, emitiu um comunicado contundente dizendo que aceitar o resultado da eleição é "o jeito norte-americano".
"Eu não gostei do desfecho da eleição de 2008. Mas eu tinha o dever de conceder (a vitória), e o fiz sem relutância", afirmou McCain, que conquistou uma dianteira em sua disputa pela reeleição no Senado. "Uma concessão não é só um exercício de elegância. É um ato de respeito pela vontade do povo norte-americano, um respeito que é a primeira responsabilidade de todo líder norte-americano".
Alguns outros republicanos, principalmente aqueles que jamais apoiaram Trump, também rejeitaram seus comentários. Assessores do presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, e do líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, não quiseram comentar.
Indagado na noite de quarta-feira pelo moderador Chris Wallace se assumiria o compromisso de uma transição de poder pacífica, o empresário e novato político respondeu: "O que estou dizendo é que responderei a você na ocasião. Vou deixar você no suspense. OK?"
O comentário de Trump, o mais controverso de um debate que em certos momentos degenerou em insultos mútuos, rendeu manchetes com letras garrafais em todo o país e fez muitos se questionarem se ele está comprometido com uma transição de poder pacífica, um alicerce da democracia norte-americana.
Os democratas logo indagaram candidatos republicanos se eles concordam com Trump, que concorre a seu primeiro cargo público e contra Hillary, ex-primeira-dama, senadora e secretária de Estado.
"Você concorda com Donald Trump no questionamento dos resultados da eleição?", perguntou o Partido Democrata de Nevada em um comunicado direcionado ao deputado republicano Joe Heck.
Heck está em uma disputa acirrada com a democrata Catherine Cortez Masto, ex-procuradora-geral de Nevada, pela vaga no Senado hoje ocupada por Harry Reid, o líder democrata no Senado. Recentemente Heck retirou seu apoio a Trump, e pesquisas mostram que isso prejudicou seu cacife com eleitores republicanos.