Por Andrew Callus e Chine Labbé
PARIS/SAINT-ÉTIENNE-DU-ROUVRAY, França (Reuters) - O presidente da França, François Hollande, demonstrou unidade interreligiosa frente a líderes religiosos do país nesta quarta-feira, após dois militantes islâmicos terem matado um padre dentro de uma igreja, em um episódio que reacendeu duras críticas políticas ao retrospecto do governo na área de segurança.
Um dos agressores era conhecido como possível jihadista à espera de julgamento, supostamente sob rígida fiscalização, uma revelação que aumentou a pressão a respeito da resposta do governo socialista à onda de ataques reivindicados pelo Estado Islâmico desde o começo de 2015 no país.
“Não podemos nos permitir que sejamos arrastados para dentro da política do Daesh (Estado Islâmico), o qual quer que coloquemos as crianças de uma mesma família uma contra a outra”, disse o arcebispo de Paris, o cardeal André Vingt-Trois, a jornalistas, após reunião com o presidente no palácio do governo.
Ele estava rodeado de representantes de outras denominações católicas, assim como de líderes judeus, muçulmanos e budistas.
Hollande e seus ministros já vinham sofrendo críticas de oponentes conservadores por conta do policiamento durante as celebrações do Dia da Bastilha, na cidade de Nice, sul do país, onde 84 pessoas morreram após um homem ter atropelado transeuntes com um caminhão.
O ex-presidente Nicolas Sarkozy, que deve entrar para a disputa nas primárias do Partido Conservador nas eleições do ano que vem, elevou o tom no seu ataque contra o histórico de Hollande desde o primeiro grande ataque, contra o semanário satírico Charlie Hebdo, no ano passado.
“Essa violência e barbárie paralisaram a esquerda francesa desde janeiro de 2015”, disse Sarkozy ao jornal Le Monde. “O partido perdeu seu chão e está se mantendo em uma mentalidade que está fora de sincronia com a realidade.”
Sarkozy pediu pela detenção ou monitoramento eletrônico de todos os suspeitos de militância islâmica, mesmo se não tiverem cometido nenhum crime. O serviço francês de segurança interna possui arquivos confidenciais sobre mais de 10.500 suspeitos ou aspirantes a jihadistas.
O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, rejeitou a proposta de Sarkozy, dizendo que prendê-los seria inconstitucional e, em qualquer caso, improdutivo.
Os agressores de terça-feira interromperam uma missa em Saint-Étienne-du-Rouvray, forçaram um padre de 85 anos a se ajoelhar no altar e cortaram sua garganta. Ao saírem da igreja, escondendo-se detrás de três reféns e gritando "Allahu akbar" (“Deus é o maior“), foram mortos a tiros pela polícia. Um dos reféns ficou gravemente ferido.
(Por Andrew Callus e Chine Labbe)