Por Yara Bayoumy e Mohammed Ghobari
SANAA (Reuters) - O presidente do Iêmen, Abd-Rabbu Mansour Hadi, expressou disposição nesta quarta-feira para aceitar as demandas por uma mudança constitucional e compartilhamento do poder com rebeldes do grupo Houthi que assumiram posições em frente à sua casa após derrotarem seus guardas em uma batalha de dois dias.
Os países vizinhos do Golfo denunciaram o que descreveram como um golpe no Iêmen, embora ambos os houthis e alguns dos aliados do presidente neguem que uma deposição tenha ocorrido.
Uma fonte próxima ao presidente disse que Hadi se encontrou com um oficial do grupo muçulmano xiita e negou que o presidente esteja em regime de prisão domiciliar dentro da própria casa, cercada desde as primeiras horas da manhã por militantes houthis.
Em um comunicado emitido no meio da noite, Hadi disse que o grupo muçulmano xiita tinha o direito de ser nomeado para cargos em todas as instituições do Estado e que um projeto de Constituição que tem sido fonte de discórdia entre ele e os rebeldes estava aberto a revisões.
Ele afirmou que os houthis concordaram em retirar seus combatentes de áreas próximas do palácio presidencial, sua casa e a residência oficial do primeiro-ministro, assim como prometeram libertar imediatamente o chefe de gabinete, que têm sido mantido refém por vários dias.
Após os confrontos no gabinete e na casa do presidente na terça-feira, o líder dos houthis ameaçou, em um discurso durante a madrugada, tomar novas "medidas" a menos que Hadi se curvasse às suas exigências por mudanças constitucionais destinadas a conceder mais poder aos houthis.
Os houthis, próximos ao Irã, invadiram a capital há quatro meses e, desde então, emergiram como uma força dominante no país. Até o momento, eles parecem ao menos ter desistido de derrubar Hadi, possivelmente preferindo exercer o controle sobre um líder enfraquecido no lugar de assumir o fardo do poder direto.
A derrota dos guardas presidenciais pelo grupo, em batalhas com armas e artilharia nos últimos dias, vem se somar à desordem vigente num país onde os Estados Unidos conduzem atualmente ataques com veículos aéreos não tripulados contra uma das mais poderosas ramificações da Al Qaeda.
A vitória dos houthis se tornou possível porque o Exército não reagiu, uma indicação de que Hadi, um ex-general, assegurou pouco poder duradouro durante seus anos de serviços, enquanto o grupo muçulmano xiita vem penetrando em instituições-chave desde setembro.
Na manhã desta quarta-feira, combatentes houthis, acompanhados de um veículo blindado, haviam substituído os guardas na residência do presidente.
"O presidente Hadi continua em sua casa. Não há problema, ele pode sair", disse Mohammed al-Bukhaiti, um dos membros do comando do grupo rebelde, à Reuters.
O primeiro-ministro, Khaled Bahah, deixou a residência oficial, que também foi cercada por militantes, para "um lugar seguro, após três dias de cerco", disse à Reuters um de seus assessores.
O Iêmen, um país empobrecido de 25 milhões de habitantes, tem sido assolado nos últimos anos por uma insurgência islamita, um conflito separatista, tensões sectárias e crise econômica. Um levante popular durante a "Primavera Árabe", em 2011, levou à queda do antigo presidente Ali Abdullah Saleh, lançando o país num caos ainda maior.
(Reportagem adicional de Mohammed Mokhashaf, em Aden; e de Parisa Hafezi, em Ancara)