Por Hugh Bronstein e Richard Lough
BUENOS AIRES (Reuters) - Um novo promotor argentino disse nesta sexta-feira que está assumindo uma investigação que acusa a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de tentar encobrir o suposto papel do Irã num trágico atentado antissemita de 1994, depois que o promotor que cuidava do caso morreu misteriosamente no mês passado.
A nomeação de Gerardo Pollicita para cuidar do assunto garante que a investigação continuará, depois que o promotor Alberto Nisman foi encontrado morto em seu apartamento em 18 de janeiro.
Nisman morreu um dia antes de apresentar ao Congresso Nacional suas alegações de que Cristina teria tentado acobertar os envolvidos no ataque contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires.
Pollicita disse num documento judicial de 61 páginas apresentado nesta sexta-feira que tinha visto provas suficientes para prosseguir com as acusações de acobertamento.
"Uma investigação será iniciada com o objetivo de substanciar... as acusações e se os responsáveis poderão ser responsabilizados criminalmente", afirmou Pollicita no documento.
"Em princípio, estão envolvidos na denúncia que deu início ao processo a senhora Cristina Fernández de Kirchner - presidente da nação -, os senhores Héctor Marcos Timerman –ministro das Relações Exteriores da nação", entre outros.
O chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernández, disse que as acusações eram uma "manobra de desestabilização" com motivação política e "sem validade legal".
Cristina diz acreditar que Nisman foi assassinado por agentes da inteligência demitidos em dezembro. Ela alega que eles usaram Nisman para difamá-la com acusações "absurdas" de conspiração e depois mataram o promotor quando ele já não tinha mais utilidade.
Nisman foi encontrado morto em 18 de janeiro em seu apartamento, ao lado de uma arma de fogo, num episódio que chocou a sociedade argentina e a classe política.
Embora a hipótese mais forte seja de que possa ter sido um suicídio, não está descartada a possibilidade de um suicídio instigado ou um homicídio, em meio a uma trama obscura que envolve os serviços de inteligência do país.
Nisman estava há mais de uma década à frente da investigação do atentado contra a associação judaica Amia, em Buenos Aires, que deixou 85 mortos.
Ele afirmou que Cristina abriu um canal secreto com o Irã para encobrir o suposto envolvimento de Teerã no ataque e obter acesso ao petróleo iraniano para ajudar a fechar um déficit de energia anual de 7 bilhões de dólares.
Cinco iranianos foram acusados pela Justiça argentina de envolvimento no atentado. Eles negam as acusações, assim como o governo iraniano, que tem repetidamente rejeitado qualquer envolvimento no caso. 2015-02-13T234755Z_1006940001_LYNXMPEB1C0ZG_RTROPTP_1_MUNDO-ARGENTINA-PROMOTOR-CRISTINA.JPG