Por Lamine Chikhi e Hamid Ould Ahmed
ARGEL (Reuters) - Dezenas de milhares de manifestantes protestaram em cidades em redor da Algéria neste domingo para pedir a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika no dia em que ele deve declarar sua candidatura para um quinto mandato nas eleições de abril.
O número de protestos se aproxima rapidamente dos níveis de sexta-feira, quando os manifestantes lotaram o centro da capital, Argel, em uma das maiores manifestações de dissidência - raras na Argélia - desde as revoltas da Primavera Árabe em 2011.
Bouteflika, 82 anos, em estado de saúde instável há anos, estava marcado para apresentar seus documentos eleitorais oficiais no Conselho Constitucional de Argel no domingo, prazo para os candidatos, mas não precisa fazê-lo pessoalmente, segundo a agência APS.
Bouteflika, raramente visto em público desde que sofreu um derrame em 2013, estava ainda na Suíça no final de semana para exames médicos não especificados, segundo a mídia suíça.
Os opositores de Bouteflika dizem que ele não é mais capaz de liderar, citando sua saúde precária e o que eles chamam de corrupção crônica e falta de reformas econômicas para combater o alto índice de desemprego, que excede 25% entre pessoas com menos de 30 anos.
Analistas dizem que os manifestantes, que começaram a chegar às ruas há dez dias, carecem de liderança e organização em um país ainda dominado por veteranos da guerra de independência de 1954-62 contra a França, como o próprio Bouteflika.
A tradicionalmente fraca e dividida oposição e grupos civis, no entanto, pediram que os protestos continuem, caso Bouteflika, no poder há 20 anos, confirme sua busca pela reeleição.
O governo tem jogado com medo de muitos argelinos de um retorno ao derramamento de sangue visto nos anos 1990, quando cerca de 200 mil pessoas foram mortas depois que os islâmicos pegaram em armas quando os militares cancelaram as eleições que estavam prestes a vencer.
Mas a nova série de protestos tem sido geralmente pacífica, além da sexta-feira, quando confrontos com a polícia deixaram 183 feridos.
Milhares de estudantes se reuniram no domingo em faculdades, uma delas perto do Conselho Constitucional, onde os candidatos à presidência arquivaram seus documentos, cantando: "Não ao quinto mandato!" ou "Uma Argélia livre e democrática!"
"Não vamos parar até nos livrarmos desse sistema", disse Aicha, uma estudante de 23 anos.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)