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Protestos e eleições mostram mudança em corrente pró-mercado na América Latina

Publicado 30.10.2019, 13:07
Protestos e eleições mostram mudança em corrente pró-mercado na América Latina

Por Jamie McGeever e Fabian Cambero e Joan Manuel Santiago Lopez

BRASÍLIA/SANTIAGO/BUENOS AIRES (Reuters) - Nas ruas de Santiago e Quito e nas urnas de Buenos Aires muitos sul-americanos rejeitaram fortemente nas últimas semanas as agendas de livre mercado de seus líderes, culpando-as por acentuar as desigualdades na região.

Com o crescimento econômico perdendo ritmo gradualmente, a segurança no trabalho se tornando mais frágil e falhas na rede de seguridade social aumentando, uma série de protestos emergiu, afetando milhões de pessoas.

O fim da "onda vermelha" dos líderes esquerdistas que governaram a América Latina nos anos 2000 deu lugar nos últimos anos a uma série de governos mais conservadores.

Porém, embora cada país tenha seus próprios problemas, houve uma reação comum contra as políticas "pró-mercado" aplicadas por alguns desses governos, como a privatização de ativos estatais, a redução de subsídios públicos e a exposição de mais aspectos da sociedade às forças do mercado.

No Chile, que realizou reformas de mercado muito antes do restante da região e é considerado por muitos como o exemplo do neoliberalismo, mais de um milhão de pessoas marcharam na sexta-feira para protestar contra a agenda econômica do presidente bilionário Sebastián Piñera, na maior manifestação desde o retorno da democracia em 1990.

A concentração veio após uma semana de protestos em que ao menos 18 pessoas morreram. A agitação começou quando o governo aumentou o preço da passagem do transporte público na capital, mas representou uma revolta acumulada da população com uma trajetória econômica que vinha se mantendo inalterada apesar da crescente desigualdade.

Os protestos no Chile vêm na esteira de violentas manifestações no Equador por um corte nos subsídio dos combustíveis, o que obrigou o governo a realocar temporariamente a sede do governo para Guayaquil.

E no que foi provavelmente a rejeição mais enfática à austeridade e a reformas favoráveis ​​aos negócios, os eleitores argentinos deram as costas ao presidente conservador Mauricio Macri no domingo e elegeram o peronista Alberto Fernández, em apoio esmagador a uma agenda decididamente mais protecionista.

Branko Milanovic, professor visitante da Universidade da Cidade de Nova York e especialista em desigualdade, diz que os desequilíbrios causados ​​pela globalização semearam descontentamento na América Latina.

A globalização das últimas décadas trouxe uma enxurrada de produtos de baixo custo de países como a China e expandiu os mercados de exportação de matérias-primas latino-americanas, ajudando a impulsionar o crescimento econômico, mas muitos na região sentem que são os ricos que têm recebido a recompensa.

Segundo alguns parâmetros, o Chile é um dos países mais desiguais da América Latina, mas também tem a maior renda média.

Enquanto isso, outros líderes de esquerda da região tentam capitalizar a rejeição às políticas pró-mercado.

Evo Morales, presidente socialista da Bolívia que agora enfrenta protestos generalizados após uma vitória eleitoral questionada neste mês, tem tentado mobilizar seus apoiadores com alertas sobre o risco do retorno do neoliberalismo se ele deixar o poder.

Creomar De Souza, fundador da consultoria Dharma Political Risk and Strategy, com sede em Brasília, disse que o impacto político de longo prazo das manifestações ainda não está claro.

"Mas em alguns desses países, Argentina e talvez Bolívia, a economia tomará um rumo mais heterodoxo, com um papel mais importante do Estado", disse De Souza. "Piñera apoiará algumas reformas sociais no Chile, mas a legitimidade dessa geração de políticos está ameaçada."

As turbulências coincidem com uma queda do crescimento da América Latina ao fim de um longo boom nos preços das commodities. O Fundo Monetário Internacional (FMI) este mês reduziu sua projeção de crescimento para a região para apenas 0,2% este ano, a segunda menor do mundo, atrás do 0,1% estimado para o Oriente Médio e África.

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