Por Tuvan Gumruku Ece Toksabay
ANCARA/IZMIR (Reuters) - Quando o papa Francisco se tornou o primeiro pontífice a chamar o massacre armênio de 1915 publicamente de genocídio no final de semana, a reação de Ancara foi rápida e irada: convocou o embaixador do Vaticano para uma descompostura e chamou de volta seu próprio enviado.
A reação na mídia turca nesta segunda-feira foi da indignação à indiferença, dependendo de quão próximo o jornal é do governo. A reação nas ruas foi morna, e muitos turcos desqualificaram a disputa como acontecimento político vazio e expressaram o desejo de deixar a história para trás.
Francisco desencadeou a rixa diplomática no domingo, classificando o massacre de mais de 1,5 milhão de armênios como "o primeiro genocídio do século 20" e levando a Turquia a acusá-lo de incitar o ódio.
Muçulmana, a Turquia concorda que os cristãos armênios morreram em combates com soldados otomanos a partir de abril de 1915, quando alguns armênios viviam no império governado de Istambul, mas nega que centenas de milhares foram assassinados e que isso equivale a um genocídio.
"As declarações do papa, que estão longe de serem fatos históricos e judiciais, são inaceitáveis", disse o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, no Twitter. "Instituições religiosas não são locais para incitar o ódio e a vingança com acusações sem fundamento".
O fato de que a Cidade do Vaticano é o menor Estado do mundo pode ter evitado maiores repercussões. Em 2011, quando o parlamento da França tornou a negação do genocídio armênio um crime, a Turquia retirou seu embaixador, suspendeu manobras militares conjuntas e congelou os contatos políticos por algum tempo.
A Armênia e sua grande diáspora nos Estados Unidos argumentam que a Turquia não prestou as devidas contas de seu passado dos tempos da guerra.
"Se você perguntar a um armênio ou turco comum, tenho certeza de que não nos importamos tanto com isso quanto as pessoas pensam", afirmou Dursun Okan, bancário de 27 anos.
Mesmo assim, outros viram os comentários papais como interferência estrangeira e se perguntaram se os EUA, aliados tradicionais da Turquia, algum dia usariam a palavra "genocídio".
Ao contrário de duas dezenas de países europeus e sul-americanos que empregaram o termo, Washington o evita, e alertou os legisladores norte-americanos que Ancara pode interromper a cooperação militar se votarem a favor de sua adoção.
O papa Francisco pareceu se referir a seu uso do termo "genocídio" nesta segunda-feira, declarando em um sermão que "hoje a mensagem da igreja é a do caminho da franqueza, o caminho da coragem cristã".