Por Anton Zverev e Pavel Polityuk
MOSCOU/KIEV (Reuters) -Forças do governo ucraniano e rebeldes pró-Rússia relataram aumento de bombardeios no leste da Ucrânia pelo segundo dia consecutivo, nesta sexta-feira, uma escalada que Washington e outros aliados ocidentais dizem que pode fazer parte de um pretexto russo para invadir.
Uma fonte diplomática com anos de experiência direta no conflito descreveu o bombardeio dos últimos dois dias como o mais intenso ao longo da linha de frente no leste da Ucrânia desde que grandes combates terminaram com um cessar-fogo em 2015.
A Rússia nega as acusações ocidentais de que está planejando uma invasão total da Ucrânia, um país de mais de 40 milhões de pessoas, no que seria potencialmente a pior guerra da Europa em gerações.
Moscou disse esta semana que está retirando forças concentradas perto da Ucrânia. Os países ocidentais afirmam acreditar no contrário: mais equipamentos e pessoal estão chegando e fazendo os preparativos normalmente vistos nos últimos dias antes de um ataque.
Os mercados financeiros estão abalados com a perspectiva de uma guerra que pode interromper o fornecimento global de energia e arruinar a recuperação da crise pandêmica. Eles tiveram algum conforto com o anúncio de que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se reuniria com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na próxima semana - desde que a Rússia não tenha invadido primeiro.
A escalada acentuada de disparos no leste da Ucrânia, onde as tropas do governo enfrentam rebeldes apoiados por Moscou desde 2014, atiçou o alarme global desde quinta-feira. Ambos os lados disseram que os bombardeios aumentaram dramaticamente, embora até agora nenhuma morte tenha sido relatada.
A fonte diplomática disse que cerca de 600 explosões foram registradas na manhã de sexta-feira, 100 a mais do que na quinta-feira, algumas envolvendo artilharia de 152 mm e 122 mm e morteiros de grande porte. Pelo menos quatro tiros foram disparados de tanques.
"Eles estão atirando - tudo e todos", declarou a fonte. "Não há nada assim desde 2014-15."
O Kremlin chamou a situação no leste da Ucrânia de potencialmente muito perigosa.
No alerta mais detalhado dos EUA sobre a probabilidade de guerra, Blinken disse ao Conselho de Segurança da ONU que Washington acredita que a Rússia está planejando um ataque total. Pode começar com um pretexto fabricado, possivelmente envolvendo um ataque falso e acusações falsas sobre o conflito separatista, segundo Blinken.
ACUSAÇÕES
Os rebeldes pró-Rússia no leste da Ucrânia acusaram as forças do governo ucraniano de bombardearem uma aldeia nesta sexta-feira, enquanto a mídia russa noticiou que mais unidades de infantaria e tanques estavam voltando para suas bases, em contraste com os temores ocidentais de uma iminente invasão russa.
A Ucrânia e os separatistas pró-russos estão em conflito há oito anos, e um cessar-fogo entre as partes é violado frequentemente, mas a intensidade dos combates aumentou notavelmente nesta semana.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse na quinta-feira que a Rússia está preparando um pretexto para justificar um possível ataque à Ucrânia, cuja ambição de um dia aderir à aliança militar Otan enfureceu Moscou.
Na maior crise de segurança da Europa em décadas, a Rússia reuniu tropas, tanques e armas pesadas nas fronteiras da Ucrânia e exigiu garantias de que Kiev nunca irá ingressar na Otan, algo que o governo ucraniano se recusou a fazer.
Mesmo assim, a Rússia diz não ter intenção de invadir a Ucrânia e acusa o Ocidente de histeria por causa de sua presença militar nas fronteiras, dizendo que algumas de suas tropas já voltaram para as bases.
Os líderes ocidentais, no entanto, dizem que a Rússia continua sendo capaz de lançar uma invasão a qualquer momento.
Os esforços diplomáticos continuarão nesta sexta-feira, quando Biden fará uma videoconferência com os líderes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Polônia, Romênia, Reino Unido, União Europeia e Otan.
((Tradução Redação Rio de Janeiro; 55 21 2223-7128))
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