Por Anton Zverev e Pavel Polityuk e Polina Nikolskaya
MOSCOU/KIEV/DONETSK (Reuters) - Separatistas apoiados pela Rússia anunciaram nesta sexta-feira a súbita retirada surpresa de suas regiões separatistas no leste da Ucrânia, uma reviravolta chocante em um conflito que o Ocidente acredita que Moscou planeja usar para justificar uma grande invasão de seu vizinho.
Sirenes de alerta soaram em Donetsk, capital de uma das duas regiões rebeldes após o anúncio.
O chefe regional Denis Pushilin anunciou nas mídias sociais que a Rússia concordou em abrigar aqueles que deixarem a região, com mulheres, crianças e idosos a serem retirado primeiro. A outra região autoproclamada, Luhansk, fez um anúncio semelhante.
Acredita-se que milhões de civis vivam nas duas regiões controladas pelos rebeldes no leste da Ucrânia. A maioria fala russo e muitos já receberam a cidadania russa.
A retirada estava programada para começar rapidamente: a agência de notícias Interfax informou que os primeiros ônibus partiriam trazendo civis para a Rússia às 20h, horário local, apenas quatro horas depois que a sirene soou.
Mais tarde, a Interfax informou que as crianças já estavam sendo reunidas em um orfanato para serem enviadas para a Rússia.
O anúncio veio depois que a zona de conflito do leste da Ucrânia viu o que algumas fontes descreveram como o mais intenso bombardeio de artilharia em anos na sexta-feira, com o governo de Kiev e os separatistas se acusando mutuamente.
Países ocidentais têm afirmado acreditar que o bombardeio, que começou na quinta-feira e se intensificou em seu segundo dia, é parte de um pretexto criado pela Rússia para justificar uma invasão.
Washington disse que a Rússia --que diz ter começado a retirar tropas perto da Ucrânia nesta semana-- fez o oposto: aumentou a força que ameaça seu vizinho para entre 169.000 e 190.000 soldados, de 100.000 no final de janeiro.
Os países ocidentais temem um conflito na Europa em uma escala não vista pelo menos desde as guerras da Iugoslávia na década de 1990, que mataram centenas de milhares de pessoas e deslocaram milhões de pessoas. A Ucrânia é o segundo maior país da Europa em área, depois da própria Rússia, e abriga 40 milhões de pessoas.
"Esta é a mobilização militar mais significativa na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", disse o embaixador dos EUA, Michael Carpenter, em uma reunião na Organização para Segurança e Cooperação na Europa, com sede em Viena.
A Ucrânia disse que a Rússia estava planejando ataques encenados, incluindo um vídeo falso de um ataque a uma fábrica de produtos químicos, e acusando-a falsamente de planejar uma ofensiva nas áreas separatistas.
"As forças ucranianas não estão planejando nenhuma operação ofensiva e não usarão armas se isso ameaçar civis pacíficos", disseram os militares ucranianos.
Para o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, os eventos na área de fronteira nas últimas 24 a 48 horas fazem parte de um cenário russo para criar falsas provocações, permitindo que Moscou responda com mais agressão à Ucrânia.
Uma fonte diplomática com anos de experiência direta no conflito descreveu o bombardeio no leste da Ucrânia na manhã desta sexta como o mais intenso desde que os grandes combates terminaram com um cessar-fogo em 2015.