Por Andreas Rinke e Alexei Anishchuk
MILÃO (Reuters) - Rússia e Ucrânia fizeram progressos nesta sexta-feira na resolução de uma desavença sobre o fornecimento de gás para o inverno iminente, mas líderes europeus disseram que Moscou ainda tem que fazer muito mais para fortalecer o frágil cessar-fogo e pôr fim aos combates no leste ucraniano.
O acordo discutido pode levar a Rússia a voltar a fornecer gás à Ucrânia, o que deixou de fazer em junho, e garantir o abastecimento para compradores europeus mais a oeste antes que a demanda cresça nos meses de frio no hemisfério norte e os estoques acabem. O entendimento obtido nas conversas em Milão surpreendeu, já que o Kremlin as descreveu como "cheias de mal entendidos e discórdias".
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou aos repórteres que um acordo que garante o fornecimento de gás "pelo menos durante o inverno" foi alcançado depois de um encontro pessoal com seu colega ucraniano, Petro Poroshenko, que ocorreu após conversas com a presença de líderes europeus.
"Concordamos a respeito de todos os parâmetros deste acordo", disse Putin, mas exortando os países europeus a ajudarem a Ucrânia a pagar sua dívida de gás, que ele afirmou estar em 4,5 bilhões de dólares.
O pacto se deu após uma série intensa de encontros nos bastidores de uma cúpula entre líderes da Ásia e da Europa em Milão, nos quais os europeus não deram sinais de concordar com a suspensão das sanções contra Moscou impostas em virtude da crise ucraniana.
Houve algum avanço no tema do monitoramento da fronteira entre Ucrânia e Rússia e a chamada linha de demarcação separando milícias pró-Rússia e forças ucranianas. Itália, Ucrânia e Rússia concordaram em se unir a França e Alemanha no fornecimento de drones (aeronaves não-tripuladas) de vigilância para a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que supervisiona o cessar-fogo.
Entretanto, uma solução definitiva para o impasse na Ucrânia parece remota, já que temas cruciais, como a questão das eleições locais nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk, continuam em aberto. As reuniões evidenciaram a amargura nas relações entre Putin e os líderes europeus, sobretudo com a chanceler alemã, Angela Merkel.
"Não vejo avanço aqui até agora", declarou Merkel depois de uma reunião. "Continuaremos a conversar. Houve progresso em alguns detalhes, mas o tema central são as violações constantes da integridade territorial da Ucrânia".
Kiev e seus apoiadores ocidentais acusam Moscou de amparar os separatistas ucranianos com soldados e armas, e a Rússia nega envolvimento direto no conflito, dizendo entretanto ter direito de defender os interesses dos habitantes de língua russa da região.
Os combates praticamente se extinguiram desde a trégua acordada no mês passado, mas o Ocidente afirma que Moscou precisa adotar novas medidas para apaziguar Kiev se quiser que as sanções sejam removidas.
Mesmo durante o conflito Rússia e Ucrânia se desentendiam quanto aos preços que Kiev deveria pagar pelo gás russo. A Rússia, que quer preços maiores e acusa o governo ucraniano de acumular dívidas, cortou o fornecimento para a Ucrânia em junho, o que despertou temores de que o gás russo que transita pela Ucrânia rumo à Europa também sofra cortes quando a procura aumentar durante o próximo inverno.
Autoridades da União Europeia anunciaram que as conversas continuarão em Bruxelas na semana que vem, e Poroshenko declarou aos repórteres esperar que o acordo firmado nesta sexta-feira se mantenha até lá.
Alexey Miller, chefe da gigante estatal russa de gás Gazprom, que se reuniu com o líder do grupo energético ucraniano Naftogaz mais cedo nesta sexta-feira, disse que a retomada do abastecimento depende da concordância da Ucrânia com as condições da Rússia.
(Reportagem adicional de Elizabeth Pineau, Steve Scherer, Elvira Pollina, Francesca Landini, Giulio Piovaccari, Alessandra Galloni e James Mackenzie em Milão, Gabriela Baczynska em Donetsk)