Por Daniela Desantis
ASSUNÇÃO (Reuters) - Em pouco mais de uma década, Santiago Peña deixou de ser um jovem diretor do Banco Central para se tornar o homem que governará o Paraguai pelos próximos cinco anos com o desafio de sustentar o amplo apoio que obteve nas urnas.
Peña, um economista de 44 anos, assumirá a Presidência na terça-feira após sua confortável vitória nas eleições de abril, representando o Partido Colorado, de direita, que governou o Paraguai nos últimos 75 anos, com exceção de cinco.
O resultado da disputa, em que obteve 15 pontos de vantagem sobre seu principal adversário e seu partido conquistou maioria nas duas casas do Congresso, pode lhe garantir alguma estabilidade para governar. Mas Peña afirma que esse apoio pode ficar frágil.
"Tenho o desafio de sustentar isso com legitimidade no exercício", disse ele em entrevista exclusiva à Reuters uma semana antes da posse.
“Vamos ser constantemente avaliados em cada uma das decisões e estou ciente de que não tenho margem de erro e que isso não se constrói simplesmente dizendo que me deram carta branca”, acrescentou.
As relações com os Estados Unidos após acusações contra seu mentor político, o ex-presidente Horacio Cartes, estarão no foco, assim como as medidas que tomará para melhorar a qualidade de vida dos paraguaios, uma de suas promessas de campanha.
O futuro presidente propõe criar 500 mil novos empregos em cinco anos para impulsionar a economia do país exportador de soja e carne bovina, além de controlar a inflação que disparou no ano passado e combater a insegurança. Não pretende aumentar impostos ou mudar os laços do Paraguai com Taiwan.
“Há dívidas que temos com o povo”, disse Peña na entrevista, na qual acrescentou que promoverá “uma maior presença policial nas ruas, a redução do preço de alguns produtos, saúde acessível para todos e tranquilidade para que o setor privado seja estimulado a empreender".
NA SOMBRA DE CARTES
Peña formou-se economista em Assunção e se especializou em políticas públicas na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Ele foi funcionário do FMI em Washington até sua nomeação como diretor do Banco Central em 2012 e três anos depois tornou-se ministro da Fazenda.
Sua carreira deu uma guinada em 2016, quando uma manifestação que destruiu parte da sede do Congresso frustrou os planos do então presidente Cartes de modificar a Constituição para aspirar à reeleição. O empresário milionário escolheu seu jovem ministro para sucedê-lo.
Sem ter atuado na política antes, Peña filiou-se ao Partido Colorado e iniciou uma campanha meteórica em busca da conquista da Presidência dois anos depois. Mas seu aspecto citadino e seu discurso técnico tiveram pouco sucesso entre os líderes do partido.
Depois de perder as primárias para o presidente Mario Abdo, ele redobrou a aposta para percorrer um caminho que foi complicado.
Em agosto de 2022, quando Peña estava em plena campanha pela indicação interna de dezembro, os Estados Unidos denunciaram que Cartes participou de atos significativos de corrupção e no início deste ano impuseram-lhe sanções econômicas que o obrigaram a se desfazer de suas empresas. O ex-presidente nega as acusações.
Peña venceu as primárias, mas as sanções representaram um golpe na unidade do partido, que já arrastava conflitos internos. Analistas acreditam que Cartes será uma figura muito influente no novo governo.
Apesar das divergências, o grupo obteve uma vitória contundente e se uniu na recente nomeação de lideranças parlamentares e representantes dos órgãos que controlam juízes e promotores no Judiciário.