Por Alexandra Ulmer
CARACAS (Reuters) - O profundamente impopular presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pareceu ansioso em se projetar como totalmente no controle de suas forças militares, antes muito poderosas, quando discursou à Guarda Nacional no sábado.
Uma das principais avenidas da capital Caracas foi fechada, vídeos comemorativos ao 81° aniversário da Guarda Nacional foram colocados em um telão e um Maduro com sua faixa presidencial era cercado pelo alto escalão militar.
Mas enquanto o líder esquerdista começava a falar que a economia em crise da Venezuela poderia se recuperar, sua esposa Cilia Flores olhava para o céu, parecendo assustada.
Ela recuou, a câmera tremeu, o áudio da transmissão da TV estatal foi interrompido e a câmera abruptamente cortou para centenas de soldados em formação. Mas a formação dos militares foi rapidamente desfeita, com soldados correndo em pânico antes que a transmissão ao vivo fosse interrompida, com as imagens cortando para reprises.
Ao menos uma explosão atingiu o evento, e o governo disse que houve uma tentativa de assassinato contra Maduro envolvendo drones carregados com explosivos.
O incidente não parece ter gerado qualquer onda de apoio espontâneo por parte dos tradicionais apoiadores do governo, muitos dos quais ressentidos com a hiperinflação, os frequentes cortes de água e eletricidade e a falta de alimentos.
"Esse incidente faz Maduro parecer vulnerável, mas a verdade é que seu círculo tem poder de reprimir seus inimigos porque ainda controla todos os níveis de poder", disse o diretor da consultoria Control Risks, Raul Gallegos.
"Qualquer fragilidade que apareça é compensada pela desculpa de que Maduro agora tem que reprimir seus inimigos internos, reais ou supostos".
"A debandada dos militares, transmitida ao vivo, deixa as forças armadas e os altos escalões militares com uma imagem muito ruim", disse o ex-general e membro do governo Maduro, Hebert Garcia Plaza, que fugiu do país.
O cartunista venezuelano EDO publicou um desenho que mostra soldados apavorados correndo sob a legenda: Corra, Forrest, o Império está nos invadindo!", em alusão ao filme Forrest Gump, onde o personagem de Tom Hanks corre através dos Estados Unidos.
Pedidos abertos por intervenção militar cresceram após grandes protestos contra o governo no ano passado falharem em derrubar Maduro, que se reelegeu em maio, em uma eleição amplamente descrita como manipulada.
Muitos soldados têm sido detidos por acusações de conspiração contra Maduro ou deserção, conforme os militares também muitas vezes lutam para conseguir três simples refeições por dia.
No ano passado, um policial sequestrou um helicóptero e atirou contra prédios do governo no que disse ser uma ação contra um ditador, mas ele acabou morto por forças venezuelanas.
Em público, no entanto, os altos escalões seguem fortemente leais a Maduro, um ex-motorista de ônibus e chefe sindical de 55 anos que não tem origem militar como seu antecessor Hugo Chavez.
Maduro pode se consolar com o fato de que meia dúzia de guarda-costas correram pelo palco para cobri-lo com escudos à prova de balas. Uma voz foi ouvida dizendo "vamos, meu líder" durante o incidente.
"O drone estava vindo em minha direção, mas havia um escudo de amor", disse Maduro na noite de sábado. "Tenho certeza de que vou viver ainda por muitos anos."
((Tradução Redação São Paulo, 55 11 5644 7519)) REUTERS LC