Por Fernando Kallas e Emma Pinedo
MADRI (Reuters) - Três torcedores do Valência foram condenados a oito meses de prisão, nesta segunda-feira, por crimes de ódio contra o jogador do Real Madrid Vinícius Jr., a primeira condenação por insultos racistas em um estádio de futebol na Espanha, anunciou o tribunal.
"A sentença proferida hoje, que é definitiva, estabelece como provado que os três réus insultaram Vinícius com gritos, gestos e cânticos referentes à cor de sua pele", disse o tribunal em um comunicado.
"Esses gritos e gestos de natureza racista, que consistiam, entre outras coisas, na repetição de sons e na imitação de movimentos de macacos, causaram ao jogador de futebol sentimentos de frustração, vergonha e humilhação, com o consequente enfraquecimento de sua dignidade intrínseca."
Na Espanha, sentenças de prisão inferiores a dois anos por crimes não violentos raramente exigem que um réu sem condenações anteriores cumpra pena de prisão, portanto, os três provavelmente permanecerão livres, a menos que cometam outros delitos.
Os três torcedores, que se declararam culpados das acusações, também foram proibidos de entrar em estádios de futebol por dois anos e condenados a pagar os custos do processo.
Em sua conta no X, Vinícius, que está com a seleção brasileira para amistosos nos Estados Unidos antes da Copa América que será disputado em solo norte-americano, comentou a decisão da Justiça.
"Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas 'jogar futebol'. Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos", escreveu o jogador de 23 anos.
"Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a LaLiga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí."
Os fatos ocorreram no estádio Mestalla, em Valência, em maio do ano passado, quando insultos racistas foram lançados contra Vinícius durante uma partida da liga.
Eles levaram a uma onda de apoio ao atacante brasileiro e estimularam uma série de campanhas locais e internacionais, incluindo a criação de um comitê antirracismo da Fifa formado por jogadores.
ÓTIMA NOTÍCIA
"Essa decisão é uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, já que repara o dano sofrido por Vinícius Jr. e envia uma mensagem clara às pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a LaLiga as identificará, as denunciará e haverá consequências criminais para elas", disse o presidente da LaLiga, Javier Tebas.
"Durante a audiência, os réus leram uma carta de desculpas a Vinícius Jr., à LaLiga e ao Real Madrid", informou a LaLiga em um comunicado nesta segunda-feira.
O Real Madrid disse que os réus demonstraram arrependimento e, em sua carta, "pediram aos torcedores que todos os traços de racismo e intolerância fossem banidos das competições esportivas".
"O Real Madrid, que junto com Vinícius Jr. atuou como promotor particular nesses processos, continuará a trabalhar para proteger os valores do nosso clube e erradicar qualquer comportamento racista no mundo do futebol e do esporte", acrescentou o clube em um comunicado.
Vinícius ajudou o Real Madrid a conquistar o título da LaLiga e a Liga dos Campeões na última temporada. Ele foi eleito o melhor jogador da temporada da Liga dos Campeões e é um dos favoritos para ganhar a Bola de Ouro de melhor jogador do mundo em outubro.
Dezesseis incidentes de abuso racista contra Vinícius foram relatados aos promotores espanhóis pela LaLiga nas duas últimas temporadas.