Por Valerie Volcovici e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que irá retirar os EUA do acordo global sobre clima de 2015, rejeitando pedidos de aliados norte-americanos e líderes empresariais, em uma ação na qual ele cumpriu uma grande promessa de campanha.
Apoiadores do acordo condenaram a ação de Trump como uma abdicação da liderança norte-americana, uma infelicidade e um erro monumental de política externa. Seu antecessor, Barack Obama, lamentou a saída de um acordo no qual foi fundamental na intermediação.
“Estados saindo”, disse Trump em uma cerimônia na Casa Branca, na qual criticou as obrigações financeiras e econômicas do acordo de Paris. Ele afirmou que a saída norte-americana “representa uma reafirmação da soberania americana”.
Trump disse que os Estados Unidos irão começar negociações para entrar novamente no acordo de Paris ou para ter um novo acordo “em termos que sejam justos aos Estados Unidos, suas empresas, seus trabalhadores, seu povo, seus contribuintes”.
Aliados dos EUA expressaram consternação com a decisão de Trump. França, Alemanha e Itália rejeitaram sua sugestão de que o pacto global deva ser revisado.
Com a ação de Trump, os EUA irão se afastar de quase todos os países do mundo em uma das questões mais urgentes no século 21. A saída coloca os EUA ao lado de Síria e Nicarágua como os únicos não participantes do acordo no mundo.
Trump disse que os Estados Unidos irão cessar pagamentos ao Fundo Verde do Clima da Organização das Nações Unidas, no qual países se comprometeram com bilhões de dólares para ajudar países em desenvolvimento a lidarem com enchentes, secas e outros impactos das mudanças climáticas.
Os EUA foram uma das 195 nações que concordaram com o acordo em Paris em dezembro de 2015. Mas Trump disse que o acordo irá “prejudicar nossa economia, atingir nossos trabalhadores, enfraquecer nossa soberania, impor risco legal inaceitável, e nos colocar em uma desvantagem permanente em relação aos outros países no mundo”.
“Não queremos mais outros líderes e outros países rindo de nós. E eles não estarão”, acrescentou Trump, retomando a mensagem de “América Primeiro” usada quando foi eleito presidente, no ano passado.
Sob o pacto, que demorou anos para ser implementado, nações ricas e pobres se comprometeram em reduzir emissões dos chamados gases causadores do efeito estufa, gerados pela queima de combustíveis fósseis e que cientistas culpam pelo aquecimento do planeta.
“Eu fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, não de Paris”, disse o presidente republicano.
Obama, um democrata, declarou em comunicado que as nações que continuam no acordo serão as que irão colher os benefícios em empregos e indústrias criadas.
“Mas, mesmo na ausência de liderança americana; mesmo que este governo se junte a um pequeno punhado de nações que rejeitam o futuro; estou confiante que nossos Estados, cidades e empresas irão avançar e fazer ainda mais para liderar o caminho e ajudar a proteger o planeta para gerações futuras”, acrescentou Obama.
O chefe-executivo da Tesla Inc, Elon Musk, disse que irá deixar os conselhos de assessoria da Casa Branca após a ação de Trump.
“Mudanças climáticas são reais. Deixar Paris não é bom para a América ou para o mundo”, disse Musk em publicação no Twitter.
O CEO da General Electric (NYSE:GE), Jeff Immelt, afirmou estar desapontado, acrescentando que "a indústria deve agora liderar e não depender do governo”.
Líderes republicanos do Congresso dos EUA apoiaram Trump. O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, aplaudiu Trump “por dar outro golpe significativo ao ataque do governo Obama contra a produção de energia doméstica e empregos”.
Democratas criticaram a ação do presidente. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, chamou a decisão de “uma das piores ações políticas feitas no século 21 por conta do grande dano à nossa economia, nosso meio ambiente e nossa posição geopolítica”.
O prefeito democrata da cidade mencionada por Trump, Bill Peduto, de Pittsburgh, rapidamente disse que sua cidade, conhecida pela indústria siderúrgica, na verdade acolheu o acordo de Paris.
Sob o pacto, os EUA se comprometeram a reduzir suas emissões até 2025 de 26 a 28 por cento em relação aos níveis de 2005. Os EUA, atrás somente da China em emissões de gases causadores do efeito estufa, são responsáveis por mais de 15 por cento do total mundial.
Durante a campanha eleitoral presidencial do ano passado, Trump prometeu para eleitores a saída norte-americana do acordo. Ele havia expressado dúvidas sobre mudança climática, chegando a chamá-la de farsa para enfraquecer a indústria norte-americana.
Apoiadores norte-americanos do acordo disseram que qualquer retirada de Trump mostraria que os EUA não podem mais ser confiáveis para cumprir compromissos internacionais.
Líderes internacionais, incluindo o papa, pressionaram Trump para não abandonar o acordo.
Apesar da pressão de aliados no G7, grupo dos sete países mais ricos, em encontro na Itália na semana passada, Trump havia se recusado a endossar o acordo, desprezando líderes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.