Por Doina Chiacu e Steve Holland
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aprovou nesta sexta-feira a divulgação de um memorando republicano confidencial que alega viés contra ele no FBI e no Departamento de Justiça, em um confronto incomum com agências da aplicação da lei por conta da investigação sobre suposta interferência russa na eleição de 2016.
Ignorando pedidos do FBI feitos nesta semana, Trump retirou sigilo do memorando de quatro páginas e enviou o documento ao Congresso, onde republicanos do Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados imediatamente divulgaram ao público.
O presidente republicano disse a repórteres que o conteúdo do documento conta uma história vergonhosa de viés contra ele e que “muitas pessoas deveriam estar envergonhadas”.
O documento se tornou um ponto crítico na batalha entre republicanos e democratas sobre a investigação criminal do procurador especial Robert Mueller sobre suposto conluio entre a campanha de Trump e a Rússia para inclinar a eleição presidencial de 2016.
Acredita-se que Mueller também esteja investigando quaisquer tentativas de impedir seu inquérito.
Trump tem repetidamente se queixado sobre a investigação de Mueller, que colocou uma sombra sobre seu primeiro ano no cargo, chamando a investigação de uma caça às bruxas e negando qualquer conluio ou obstrução de justiça. Moscou negou qualquer envolvimento na eleição.
O memorando, apontado pelo FBI como incompleto e criticado por democratas como uma tentativa de debilitar a investigação de Mueller, busca mostrar que a investigação de supostos laços entre a campanha de Trump e a Rússia foi motivada por viés político.
O documento, comissionado pelo presidente do painel de inteligência da Câmara, o republicano Devin Nunes, usa o caso das investigações sobre um assessor da campanha de Trump, Carter Page, dizendo que o FBI usou uma fonte tendenciosa para justificar vigilância contra ele.
O memorando alega que um dossiê de contatos entre Trump e a Rússia compilado pelo ex-espião britânico Christopher Steele, e financiado em parte por democratas norte-americanos, formava uma “parte essencial” de pedidos de vigilância eletrônica contra Page que começou em outubro de 2016.
O documento diz que o requerimento inicial e requerimentos subsequentes de renovação não mencionavam a ligação entre Steele e os democratas. O documento também apresenta Steele como tendencioso, dizendo que ele “era veemente contra (Trump) ser presidente”.
Democratas disseram que o memorando é seletivo na escolha de informações.
“A divulgação seletiva e politização de informações confidenciais estabelece um precedente terrível e irá causar danos a longo prazo à comunidade da inteligência e nossas agências de aplicação da lei”, disseram democratas do painel de inteligência da Câmara em comunicado nesta sexta-feira.
Os democratas disseram esperar divulgar seu próprio memorando respondendo às acusações no dia 5 de fevereiro.
O documento completo que o Departamento de Justiça usou para solicitar permissão de um tribunal especial para espionar Page continua altamente confidencial, tornando difícil avaliar os conteúdos do memorando.
Há dois dias, em uma rara repreensão pública ao presidente e republicanos no Congresso que estavam impulsionando a divulgação do memorando, o FBI disse ter “profundas preocupações sobre omissões materiais de fatos” no documento e que ele não deveria ser tornado público.
Nesta sexta-feira, agentes do FBI defenderam suas funções e disseram que “não permitem e não irão permitir que políticas partidárias distraiam” de sua missão.
“O povo americano deve saber que eles continuam bem servidos pela agência de aplicação da lei mais preeminente do mundo”, disse o presidente da Associação de Agentes do FBI, Thomas O’Connor, em comunicado após a divulgação do memorando.
(Reportagem de Steve Holland, Susan Heavey, Doina Chiacu e David Alexander)