Por Gabriela Baczynska e John Chalmers
BRUXELAS (Reuters) - Autoridades da União Europeia (UE) expressaram dúvidas nesta quinta-feira de que as mais recentes propostas britânicas sobre o Brexit possam levar a um acordo antes do prazo final de 31 de outubro, e um representante do bloco chegou a dizer que o plano do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, "não pode voar" do modo como está.
Mas o bloco teve a cautela de não rejeitar as propostas muito cedo, e os dois lados estão pisando com cuidado para evitar qualquer culpa, caso o tortuoso processo de separação termine em confronto.
Mais conversações entre os negociadores do Brexit dos dois lados devem ocorrer na sexta-feira, mas o bloco já deixou claro que os planos de Johnson --que envolvem principalmente acordos para a fronteira entre a Irlanda (integrante da UE) e a Irlanda do Norte (província britânica)-- não estão nem perto de alcançar um acordo.
As novas propostas britânicas podem ser apenas o ponto de partida para mais negociações, segundo autoridades e diplomatas que lidam com o Brexit na UE em Bruxelas.
"Ele (o plano) não contém nenhuma solução decente para as alfândegas. E ergue uma fronteira rígida na ilha da Irlanda", afirmou uma autoridade de alto escalão da UE, dizendo que o plano "não pode voar" como está.
Um diplomata da UE disse que o plano precisaria ser fundamentalmente reformulado para se tornar aceitável. O tempo é curto até os líderes da UE se encontrarem em Bruxelas, nos dias 17 e 18 de outubro, para uma cúpula do Brexit.
No entanto, o Parlamento britânico aprovou uma lei determinando que o país não pode sair sem um acordo e precisa pedir uma prorrogação se não chegar a lugar algum na cúpula da UE. Johnson promete retirar o Reino Unido em 31 de outubro, mas não explicou como ele contornaria isso.
Ele também prometeu não solicitar outro adiamento do Brexit, já adiado duas vezes desde sua data original, em março passado.
A recepção fria de Bruxelas às propostas de Johnson indica o quão distantes os dois lados estão na primeira saída de um Estado soberano da UE, criado a partir das ruínas da Europa após a Segunda Guerra Mundial.
"Existem pontos problemáticos na proposta do Reino Unido e é necessário mais trabalho. Este trabalho é para o Reino Unido, e não o contrário", disse a porta-voz da Comissão Natasha Bertaud.
O Reino Unido, no entanto, enfatizou que é a vez de a UE agir. "Agora é a vez de a UE responder e também mostrar que eles podem ser criativos e flexíveis. Isso define a ampla zona de desembarque", disse o secretário do Brexit, Stephen Barclay.