QUITO (Reuters) - Cerca de 250 venezuelanos que entraram no Equador ilegalmente para se unirem a dezenas de milhares de conterrâneos que fogem de uma crise em seu país conseguiram passagem livre para a fronteira peruana alguns dias antes de o governo do Peru endurecer suas regras de imigração.
Na quarta-feira autoridades equatorianas disseram ter despachado ônibus para transportar os imigrantes pelos 840 quilômetros que separam a fronteira norte do país andino com a Colômbia da cidade de Huaquillas, uma passagem litorânea na divisa com o Peru.
Neste ano 423 mil venezuelanos entraram no Equador pela fronteira de Rumichaca, muitos planejando seguir para o sul para conseguir trabalho no Peru. Alarmado, o governo equatoriano adotou no sábado regras que exigem que os venezuelanos exibam passaportes, e não só carteiras de identidade nacionais. O Peru fará o mesmo a partir do próximo sábado.
Centenas de imigrantes da Venezuela que começaram a atravessar a Colômbia de ônibus e a pé dias atrás, antes da adoção da nova política, cruzaram o posto de verificação de Rumichaca na terça-feira. Eles decidiram andar ou pegar carona, muitas vezes sob um frio intenso, até Huaquilla.
Maly Aviles, venezuelana de 26 anos, passou dias na divisa Equador-Colômbia com amigos esperando uma solução até os ônibus chegarem.
"Não há retorno. Voltar à Venezuela é suicídio", disse.
A economia da Venezuela está em declínio acentuado e há ondas periódicas de protesto contra o governo socialista do presidente Nicolás Maduro. Maduro argumenta que é vítima de uma "guerra econômica" liderada pelos Estados Unidos, concebida para sabotar sua gestão por meio de sanções e da elevação abusiva de preços.
O caos vem forçando muitas pessoas a partir em levas para as fronteiras em busca de trabalho, alimento e saúde básica -- o que sobrecarregou a assistência social, criou mais concorrência por empregos de baixa qualificação e atiçou o temor de um aumento da criminalidade.
O governador de Pichincha, província do norte do Equador, disse que mais transferências de venezuelanos serão organizadas nos próximos dias.
"Os venezuelanos tomaram a decisão de seguir para o Peru, e no Equador devemos garantir seus direitos. É uma crise humanitária", disse ele a uma rádio local.
Dezenas de milhares de venezuelanos também têm seguido para o Brasil, atravessando a fronteira com o Estado de Roraima para fugir da turbulência econômica e política em seu país. O fluxo sobrecarregou os serviços sociais do Estado e causou uma crise humanitária, com famílias dormindo nas ruas em meio à crescente criminalidade e prostituição.
(Por Daniel Tapia)