Há sinais mais expressivos de que, à margem da pandemia do coronavírus e seus impactos na atividade econômica brasileira, ainda graves e sem um quadro sugestivo de superação, o déficit fiscal brasileiro, que ao que tudo indica está longe de ser interrompido, impacta nas perspectivas para o país e, embora ainda não ganhe manchetes destacadas, tão somente citações do montantes evolutivos, tendam a fomentar e estimular as fragilidades do preço do dólar e do comportamento da Bovespa.
Tem-se mantido foco acentuado nas economias desenvolvidas e nos sinais de suas recuperações, em especial a americana, mas é perceptível que há um rigor menor, um querer não ver, quando se trata de analisar os reais problemas que se colocam como desafios grandiosos para o Brasil, dentre os quais o maior e a frente dos demais o déficit fiscal crescente e, contraditoriamente, há muita preocupação em propagar uma linha otimista de recuperação da atividade econômica ainda difusa e instável nos seus fundamentos.
O Copom reduziu o juro a níveis históricos sem antecedentes, e no primeiro momento, aconteceu o previsível deslocamento dos investidores pessoas físicas do mercado de renda fixa para a Bovespa, onde representam na atualidade algo como 27% dos participantes, porém o que provavelmente não era esperado de forma tão intensa foi o deslocamento contínuo destes recursos, após a onda inicial para a Bovespa, para as cadernetas de poupança, onde a rentabilidade beira ao negativo.
Ocorre o que se tem designado como atitude "precaucional" face aos riscos de emprego e renda por parte da população está optando pela poupança tradicional, semelhante ao que ocorre de forma incisiva mas também não tão destacada com os investidores mais sofisticados no mercado global e que se deslocaram para os metais, ouro e prata, e causaram fortes valorizações destes ativos, nem sempre observados dado o foco em moedas, juros e mercado acionário.
Já tivemos oportunidade de destacar nosso ponto de vista sobre a Bovespa, que consideramos revelar gradativamente perda de tração na medida "em que anda de lado" e flutua sinalizando muito "day trade" que acaba promovendo o volume diário expressivo, mas que já desperta atração maior, até porque o investidor pessoa física é muito "arisco" e ainda atua na Bovespa como se fosse um "cassino", visando lucro rápido e fácil.
E não se espera que mesmo com a liquidez externa intensa recursos de investidores estrangeiros venham a ser canalizados para o Brasil, pois há insegurança e riscos, a despeito do razoável CDS em torno de 215 pontos que o país detém no momento, mas que poderá ser elevado na medida em que a questão fiscal for melhor ponderada.
O dólar vinha sustentando o preço numa relativa estabilidade após temporada tumultuada, visto que a rigor o país não deve ter intensificação de ingressos e saídas de recursos externos ao longo deste ano, e tem situação de conforto em razão das reservas cambiais que tem em estoque.
A rigor, o preço que tem mantido em média em torno de R$ 5,20, a despeito da intensa volatilidade, está dentro do conceito de "cambio alto" desejado pelo governo, já que algumas instituições respeitadas no exterior entendessem até recentemente que pudesse estar em patamar mais baixo.
Contudo, ao que tudo indica com o aumento do foco sobre a questão fiscal brasileira o preço da moeda americana sugere estar sendo pressionada por expectativas menos favoráveis e tende a buscar patamar um pouco acima do mais recente,
Entretanto, não acreditamos que, a priori, a pressão possa conduzir o preço ao rompimento de R$ 5,50, mas se a pandemia evidenciar maior longevidade e o governo for obrigado a estender os programas assistenciais à população carente, elevando o déficit fiscal e houver perspectiva de que a retomada da atividade econômica possa ser mais lenta, é possível que a pressão imponha patamar do preço do dólar mais elevado, por motivar postura defensiva.
O preocupante é que o ambiente ficando afetado pelo risco fiscal possa interferir na dinâmica da desejada retomada da atividade econômica e fomente o desalento de segmentos importantes, como o automobilístico que já fomentou o desemprego, e isto retarde ainda mais o reaquecimento da atividade.
Os recursos disponibilizados pelo governo para fomento das pequenas e médias empresas não flui como desejado e grande parte das pequenas está ficando inviabilizada, o que terá reflexos no emprego.
As autoridades governamentais têm expectativa de que a retomada da atividade seja estimulada pela demanda reprimida, mas o quadro presente sugere que o poder aquisitivo da população está combalido e que o que sobrar, se sobrar, será retido como suporte e não direcionado ao consumo.
E mais, neste momento ainda se coloca em ebulição as discussões sobre a Reforma Tributária que trás consigo a inevitável percepção de aumento de tributos em especial no segmento serviços, que é o grande gerador de empregos no país.
É importante que seja observado com maior rigor e ceticismo o "status quo" do Brasil, e neste se encontrem as verdadeiras causas que podem estimular ou contrair as expectativas do país, e não deslocando a visão para a economia americana, Wall Street, embates China-Estados Unidos como causas principais de influências no país.