Vai e vem
Nossa Bolsa iniciou o dia em leve alta, piorou na abertura de Nova York e, tal seus pares internacionais, está próximo ao zero-a-zero no momento que escrevo. Suspeito que tenha faltado lítio para o pessoal hoje.
À exceção das produtoras de celulose (que reagem a novo anúncio de reajuste de preços), predominam na ponta positiva nomes de mercado doméstico — boa parte deles ligados a juros que, por sua vez, têm queda moderada em reação ao IPCA-15 abaixo das expectativas.
Decisão do Banco Central Europeu (vide a seguir) é, até aqui, tema do dia. Enquanto isso, Obama esvazia a gaveta.
Paciência germânica?
Seguem inalteradas as políticas de estímulo do Banco Central Europeu. A decisão provocou críticas por parte do ministro das finanças alemão.
O problema nós já mencionamos por aqui tempos atrás: a inflação começa a incomodar na Alemanha e, como consequência inevitável da unidade da política monetária do Euro, país tem pouca margem de manobra para lidar com a situação. Vale (SA:VALE5) lembrar que teremos eleições por lá em setembro.
Em coletiva de imprensa, Mário Draghi pediu “paciência” aos alemães. Não é exatamente uma virtude pela qual os povos germânicos são conhecidos.
Do outro lado da Linha Maginot, Marine Le Pen dá sinais de que abraçará a retirada da França do Euro em sua campanha presidencial. Fraurevoir.
Você consegue imaginar uma zona do Euro na qual são contrariados os interesses de França e Alemanha? Eu não. 2017 será um ano de intenso teste para a União Europeia.
Goldfajn e o risco-país
Goldfajn voltou a falar em Davos. Saudou o bom resultado da última estatística de inflação e reafirmou confiança de que seguimos no rumo certo por aqui. Chamou a atenção para a paulatina redução do CDS brasileiro e para a expectativa de melhora da avaliação do país pelas agências de rating internacionais.
Grosseiramente falando, o CDS é o custo de um derivativo que protege contra um eventual default da dívida soberana — no limite, uma boa referência de risco-país. De fato, caminhamos bem: o nível atual é próximo do menor em um ano.
Algumas comparações com países com a mesma nota de crédito que a gente: Croácia (195), Chipre (223), Turquia (285) e Guatemala (377).
Goldfajn tem razão: mantido o atual rumo das coisas, agências estão fadadas a melhorar nossa avaliação. Mas, como de costume, só o farão quando isso já for notícia velha para todo mundo.
A passos largos
Deve ser anunciado na segunda-feira o pacote de socorro federal ao Rio de Janeiro. Até aqui, sinais indicam as mesmas condições sobre as quais já versei: um “pendura” de três anos para compromissos, em troca da adoção de medidas de austeridade e privatizações.
Tudo muito parecido com o que era a proposta original do governo que a Câmara tratou de deformar. Esta guerra, Meirelles e equipe parecem destinados a vencer.
O governo gaúcho sinaliza que gostaria de negociar em termos equânimes àqueles que Pezão caminha a passos largos para aceitar. Deve acabar seguido por outros na mesma situação.
Já passou da hora de desatar esse nó.
Contorcionismo retórico
O pessoal do Fórum Social Mundial deve estar confuso: é tido como grande estrela de Davos (que eles pintam como “um encontro da direita mundial”) Xi Jinping, presidente da China comunista… que está lá defendendo globalização e livre comércio. Haja contorcionismo retórico, hein?
Enquanto isso, é inusualmente baixa a volatilidade observada no mercado chinês nos últimos dias. O que corre é que fundos ligados a estatais e outros entes governamentais estariam intervindo no mercado para evitar solavancos em meio à turnê de Xi na Suíça. Livre mercado!
China segue testando os limites do exotismo em termos de política econômica. Às vésperas do ano novo lunar, banco central injetou o equivalente a 60 bilhões de dólares em liquidez no sistema financeiro — o período de festas é caracterizado por maior procura por saques em dinheiro.
Ao mesmo tempo, impôs ao renminbi uma taxa mais valorizada ante divisas internacionais… e reservas em moeda estrangeira seguem sendo consumidas: as posições do país em títulos do tesouro americano (dos quais já foi o maior detentor no planeta) caem pelo sexto mês consecutivo e são as menores desde 2011.