Acredito que uma das coisas mais difíceis para nós brasileiros é acreditar que de fato as coisas estão melhorando no Brasil, principalmente quando os assuntos são juros e inflação. A mudança repentina de cenário faz parte do dia a dia do investidor local, o que dificulta um entendimento da mudança estrutural.
Voltando ao título, quando digo que 2018 não será igual a 2013, me refiro ao 2013 em que a esperança de um juro real mais próximo de um país “minimamente desenvolvido” foi destruída em poucos meses, consequência do pulo da inflação. A inflação é a variável chave que mantém o equilíbrio da economia e dos juros. O objetivo central de nosso texto é mostrar como os fatores que levaram à queda da inflação e dos juros eram frágeis e totalmente diferentes do ambiente atual.
Em 31 de agosto de 2011, o Banco Central surpreendeu os mercados ao anunciar um corte de 50bps na taxa Selic, reduzindo-a de 12,5% a.a. para 12%. O motivo da surpresa foi pelo mesmo comitê, no mês anterior, ter decidido aumentar a taxa em 25bps. Algo havia mudado. Não foram os fundamentos, mas sim o projeto político e uma das bandeiras da Presidente da República Dilma Rousseff: a redução do juro real no Brasil.
O objetivo tomou conta não só da esfera política, mas também do Banco Central e ministério da fazenda. Materializou-se em 2012 com a Selic ao menor nível da história (7,25% a.a.) e com isso os juros reais, medidos através dos títulos públicos (NTN-Bs), se aproximaram da casa de 3% a.a.. Durante todo o ano de 2012, esse novo nível de juros foi entendido como o novo patamar de juro real que equilibrava a economia brasileira.
Como é característico do mercado brasileiro, perpetuamos a realidade sem questionar os alicerces do movimento. Em seus pilares estavam medidas que controlavam os preços monitorados, como os combustíveis (que teve como consequência a quase quebra da Petrobras (SA:PETR4)) e a redução do preço na energia elétrica na “marra” (cujo corolário foi uma crise no setor e uma conta estratosférica que todos os brasileiros conhecem e amargaram muito bem).
Nos capítulos subsequentes, a inflação começou a subir mesmo com os preços monitorados represados. O excesso de incentivo ao consumo de bens não duráveis não era compatível com uma política monetária expansionista e muito menos com um movimento de expansão fiscal acima da inflação, resultando em uma crise fiscal. Foi então que o óbvio aconteceu: no início de 2013, o Banco Central, não conseguindo mais manter os juros baixos de forma artificial, iniciou um ciclo de aperto monetário. Infelizmente já era tarde demais. A inflação saiu do controle e a necessidade de liberar todos aqueles preços monitorados, até então represados, propagaram ainda mais o processo inflacionário (que já é maior em uma economia tão indexada coma a nossa).
No ano de 2015, o IPCA atingiu 10,7%, enquanto os preços da linha dos monitorados variaram 18,1% como consequência do processo de manutenção artificial dos preços que falamos. Nesse momento acredito que as pessoas aprenderam uma das lições mais importantes e básicas da economia: “there is no free lunch” (em português, “não existe almoço grátis). Em nosso mundo alguém sempre pagará a conta, mesmo que ela seja realocada no espaço temporal.
Como nem tudo é ruim, a forte recessão de 2015 e 2016 aliada à mudança da equipe econômica e a volta do livre movimento dos preços gerou um movimento de queda da inflação. Este teve início no final do ano passado e continua em curso, o que pode ser visto no último dado de inflação de fevereiro, em que o IPCA acumulou 4,76% nos últimos 12 meses.
Esse momento de queda de inflação e queda de juros não tem nenhuma semelhança com o movimento ocorrido entre 2011 e 2013. Hoje não existem dados maquiados, os preços monitorados são reajustados de acordo com o mercado. Ótimos exemplos são como a Petrobras vem reajustando os combustíveis, seguindo o preço internacional do petróleo, e como o preço da energia elétrica está variando de acordo com os reservatórios em bandeiras verde, amarela e vermelha. Além do mais, não existe mais um risco de desvalorização cambial. Dado o baixo nível de atividade e desemprego, com a melhora na atividade, o excedente de mão de obra galgará aumento de salário real.
Em suma, 2013 foi decorrência de um erro de entendimento de causa e consequência, “inventamos” uma inflação para reduzir os juros, como se economia fosse uma simples equação de uma única variável. Diferentemente, a queda da inflação que vivemos hoje é consequência das reformas em andamento; do livre movimento de preços e de um Banco Central formado por uma equipe técnica fortíssima que ancorou as expectativas. A queda da Selic é decorrente da queda generalizada dos preços, permitindo uma redução do juro real de forma estrutural no Brasil.
Dessa maneira, o movimento não pode ser visto como acontecimento que em breve mudará. Pelo contrário, as quedas dos juros vieram para ficar. Ainda estamos na metade do caminho nessa trajetória de mudanças estruturais no Brasil.