Na minha primeira coluna de 2020, eu fiz um balanço geral dos retornos das principais classes de ativos em 2019 e dei a minha perspectiva para o comportamento deles em 2020, com foco mais específico em ações, que é a minha especialidade.
2019: ano da renda variável
As cinco primeiras posições no ranking de retornos por classe de ativos em 2019 pertencem à renda variável. São quatro índices de ações e um de fundos imobiliários, que apresentaram rendimentos superiores a 30% ao ano.
O movimento de aumento na alocação de recursos em renda variável foi intenso em 2019. A captação líquida dos fundos de ações atingiu R$ 67,5 bilhões de janeiro a novembro. Foi quase o triplo da captação líquida de R$ 24,8 bilhões registrada no mesmo período de 2018.
Apesar do crescimento do investimento em fundos de ações, o montante investido na Bolsa ainda é baixo. Em novembro de 2019, ele representava apenas 8,2% do total de fundos de investimento. O saldo investido em fundos de ações (R$ 400 bilhões) representa menos da metade do volume de recursos da poupança (R$ 843,2 bilhões) em novembro de 2019.
E o Oscar 2019 vai para as ações Small Caps
O índice de ações Small Caps (SMLL) foi a classe de ativo que apresentou o melhor rendimento em 2019: valorização de 58,1%, com volatilidade anual de 16,5%. Eu chamo sua atenção para o forte aumento da liquidez do Exchange Traded Fund (ETF) de Small Caps (SMALL11). O volume médio diário negociado aumentou de R$ 3,4 milhões em 2018 para R$ 20,5 milhões em 2019, crescimento de quase 6x.
Seguro morreu de velho: Dividendos
O retorno do índice de Dividendos (IDIV) foi de 45,2% em 2019, segundo lugar no ranking de aplicações financeiras em 2019. O IDIV é composto por empresas sólidas que têm lucro e um bom retorno sobre o capital, com geração de caixa e baixo nível de endividamento. Essas companhias distribuem proventos aos seus acionistas.
Estrelas em ascensão: fundos imobiliários (IFIX)
Terceiro lugar no ranking de melhores investimentos de 2019, os fundos imobiliários (IFIX) tiveram valorização de 36% no ano, a classe de ativo que mais cresceu na renda variável em 2019. O volume negociado mensal aumentou 5 vezes e passou de R$ 1,0 milhão em dezembro de 2018 para R$ 5 milhões em novembro de 2019.
A quantidade total de investidores pessoas físicas que investem em FII’s atingiu 573,6 mil CPF’s cadastrados em novembro de 2019. O saldo de FII’s era de R$ 100,2 bilhões em novembro de 2019, crescimento de 31% em relação ao mesmo período de 2018, equivalente a 2% do total de fundos de investimento.
O bom desempenho dos fundos imobiliários pode ser explicado pela queda da taxa de juros e pelo aumento da alocação dos recursos dos investidores em renda variável.
Índice Bovespa: rali de fim de ano
Dessa vez tivemos rali de fim de ano, pois o Índice Bovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve valorização de 6,85% em dezembro, mês que historicamente sempre apresenta uma valorização. No ano, ele teve valorização de 31,6%. Foi o quarto ano de alta, e o índice encerrou 2019 a 115.645 pontos, apenas o quinto lugar no ranking das aplicações financeiras.
Bolsas americanas: Wall Street é o berço do mercado de ações
A bolsa de valores dos Estados Unidos teve excelente desempenho: alta do S&P 500 de 28,9% em 2019. Apesar do receio de desaceleração da economia americana, o Produto Interno Bruto (PIB) americano ainda cresce ao ritmo de 2% ao ano, já são 11 anos de economia em alta por lá, mesmo com o Trump.
Outro destaque positivo no investimento em ações foi o ETF do S&P500 (IVVB11 (SA:IVVB11)) que teve excelente valorização de 35,1% em 2019.
O campeão de rendimento em 2018 ficou na lanterna em 2019: valorização de apenas 4% em 2019. A taxa de câmbio (Ptax) saiu de R$ 3,8748 no final de 2018 para R$ 4,0307 em dezembro de 2019.
O ano foi bastante volátil para o câmbio: com picos em três momentos: início da guerra comercial (Estados Unidos e China) em maio, crise da Argentina em agosto e por fim o pico do dólar em 2019 (R$ 4,26) em novembro, repercutindo fala do ministro da Economia, Paulo Guedes (“acostumem-se com o dólar alto”) e a demora para o Banco Central (BC) atuar no câmbio.
Fechamento da curva longa de juros
As taxas de juros futuras mais longas (contratos DI com vencimento em Jan/2025) apresentaram forte queda em 2019. Após a aprovação da Reforma da Previdência, a taxa de juros do DI com vencimento em Jan/2015 caiu de 9,1% ao ano em dezembro de 2018 para 6,43% ao ano no fim de 2019.
Ano ainda foi bom para a renda fixa
Os principais indicadores de referência na renda fixa, os benchmarks IMAB (juro real IPCA+/NTNB) e IRFM (Pré-Fixado/LTN), tiveram excelente desempenho em 2019: alta de 23% no IMAB e valorização de 12% no IRFM.
Fim da cultura do CDI
Quem investiu no CDI em 2019 teve ganho bruto de apenas 6,0% em 2019. A taxa de juros (Selic) encerrou o ano em 4,5% ao ano. Se considerarmos rendimento de 95% do CDI e descontarmos o imposto de renda de 20%, o rendimento é de apenas 3,4% ao ano, rendimento inferior à meta de inflação de 4% para 2020. Definitivamente, essa classe de ativos (juros pós-fixado) deve ser reservada apenas para a reserva de liquidez no curto prazo.
Perspectivas 2020
Eu continuo otimista com a bolsa de valores em 2020 devido a três fatores principais: 1) perspectiva positiva para a classificação de risco (rating) do Brasil; 2) aumento da alocação em renda variável; 3) crescimento do lucro das empresas na bolsa em 2019 e; 4) virada do ciclo econômico (crescimento do PIB).
Tripé macroeconômico: taxa de juros baixa, inflação sob controle e recuperação do PIB
A taxa de juros deverá permanecer baixa, com expectativa de taxa Selic anual de 4,25% ao fim de 2020. A expectativa de crescimento do PIB é de 2,3% ao ano em 2020, com projeção de inflação (IPCA) é de 4% ao ano no período, segundo relatório Focus do Banco Central.
Brasil vai recuperar o grau de investimento
Acredito que o Brasil deverá recuperar o grau de investimento 12 meses após a aprovação da reforma da Previdência, ou seja, em novembro de 2020.
Curva de juros
Acredito que a curva de juros reais deverá continuar a fechar, mas em magnitude menor do que em 2019. Atualmente os juros reais (IPCA+/NTN-B) mais longos (vencimentos em 2035 e 2045) estão em 3,36% ao ano e os juros prefixados (LTN) 2025 estão em 6,42% ao ano.
Dólar apenas como hedge
Acredito que o dólar deverá repetir o fraco desempenho em 2019 (+4%) e a sua classe de ativo deverá ser utilizada apenas como hedge, ou seja, como seguro contra o chamado “risco Brasil”.
Previsões: como ganhar dinheiro em 2020
Small Caps
Acredito que as ações Small Caps (empresas que têm menor valor de mercado e ações com liquidez mais reduzida) deverão continuar com bom desempenho acima do Índice Bovespa em 2020.
Eu gosto das ações Small Caps por três motivos: empresas que estão mais fora do radar dos investidores, maior potencial de crescimento de lucros e exposição a diferentes setores da economia, pois o índice SMLL é bem menos concentrado que o Índice Bovespa.
O mercado sempre trabalha com uma projeção de Índice Bovespa no fim do ano. O consenso de mercado vê o Índice Bovespa entre 130-140 mil pontos em dezembro de 2020. Esse alvo depende basicamente de dois fatores: reforma tributária e o Brasil recuperar o grau de investimento.
Como eu não fico em cima do muro, acredito que o Índice Bovespa pode atingir 178 mil pontos no fim de 2021.
Recomendações
Eu tenho três recomendações de classes de ativos que você precisa ter em 2020: ações Small Caps, fundos imobiliários (FII’s) e investimentos no exterior, por meio do ETF de S&P500 (IVVB11 (SA:IVVB11)).
Não acredito que a renda fixa acabou, mas é preciso aumentar o nível de exposição através da renda variável para poder obter bons rendimentos nas aplicações financeiras.
Sempre importante relembrar que, por mais agressivo que seja seu perfil de investidor, a recomendação continua sendo nunca colocar 100% do seu patrimônio em renda variável.
Agora, trago uma carteira recomendada por classe de ativo com perfil de risco moderado.
Para começar: a renda fixa ainda tem participação de 30% na carteira, sendo 10% em Tesouro Selic/Fundo DI e 20% em títulos atrelados à inflação (Tesouro Direto IPCA+), sem alocação em títulos pré-fixados.
No “meio de campo” temos 10% para os fundos imobiliários (FII), 20% para os fundos multimercado e 5% para ativos em dólar (o seguro da carteira).
Na parte de maior risco da carteira, a participação de renda variável (ações) é de 35% do total, dos quais 10% em ações Small Caps, 5% no ETF de bolsa do EUA (IVVB11 (SA:IVVB11)) e outros 20% em carteira ativa de ações (como a série As Melhores Ações da Levante) e fundos de investimentos em ações.