A Apple Vale Mais que Todas as Riquezas Produzidas no Brasil?

Publicado 22.08.2020, 11:14
Você gostaria de ser sócio de uma empresa que vale US$ 2 trilhões e 100 bilhões de dólares?
 
Você investiria em uma ação da 'Maçã'? E veja, não estamos nos referindo à antiga Renar Maçãs (Pomifrutas FRTA3).

Pois é, este é o valor de mercado da empresa que fabrica o celular que provavelmente você usou para ler este artigo, o Iphone, ou talvez o IPad. A empresa também é fornecedora dos serviços de músicas como o Itunes e do desejado computador Mac.

As ações da empresa Apple (NASDAQ:AAPL) (Maçã) americana atingiram o valor de US$ 491 dólares, isto equivale a um valor de mercado de US$ 2,1 trilhões.
Se convertemos o valor de mercado da Apple em Reais pela cotação de R$5,40, teríamos algo perto de R$ 11 trilhões e 100 bilhões de reais.  

São valores astronômicos por qualquer medida. Uma empresa valer trilhões de dólares.

Recentemente, alguns analistas mencionaram que a Apple valeria mais que todas as riquezas produzidas no Brasil, isto é, o PIB brasileiro que é de R$ 7 trilhões e 300 bilhões em 2019.

Mas essa comparação faz sentido? A conta está certa: uma única empresa vale mais que um país inteiro como o Brasil?

Para nós da Upside Investor esta comparação não deveria ser feita, porque se trata de uma comparação do tipo, 'maçãs com bananas', no caso, as 'maçãs' da Apple com 'as bananas' do Brasil.

Vamos entender o porquê.

O PIB é uma medida como os economistas dizem do 'fluxo' da riqueza produzida. Foi tudo aquilo que foi comprado pelas famílias brasileiras, pelos governos, tudo aquilo que também não foi realizado tais como estoques que serão vendidos nos próximos meses, e também aquilo que foi investido em ativos (prédios, máquinas e equipamentos), acrescido do que foi exportado de forma líquida, isto é, descontada as importações.

Entretanto, a capitalização de mercado da Apple é um cálculo de valor ('value') em Finanças, isto é, está incorporado nele expectativas futuras que os investidores acreditam que a empresa trará em termos monetários, incluindo uma perpetuidade, um pressuposto de que a empresa continuará existindo num futuro muito distante. Tudo isso é descontado por uma taxa que considera os riscos e crescimentos futuros, capturados pelo CAPM Capital Asset Price Model.

É imperativo perceber que se tratam de medidas distintas, as riquezas produzidas pelo Brasil são o fluxo de bens e serviços consumidos por todos nós, brasileiros. Enquanto, o valor de mercado incorpora expectativas futuras de curto e longo prazo somadas. Portanto, não é factível uma comparação dos R$ 7,1 trilhões do nosso PIB versus os R$ 11,2 trilhões da Apple.  

Uma medida mais comparável seria usarmos o fluxo de riqueza produzido pela Apple em 2019, no caso, suas vendas que foram de US$260 bi de dólares.
Aqui notamos que os números fazem mais sentido. Uma única empresa não deveria valer mais que toda a riqueza de um país como o Brasil.

Entretanto, ainda assim, as vendas da Apple são próximas de R$ 1,4 trilhão ( US$ 260 bi em dólares). Se a Apple fosse comparada a um estado do Brasil, ela equivaleria a soma da riqueza de três estados brasileiros: Minas Gerais R$ 576 bi, Paraná R$ 421 bi e Rio Grande do Sul R$ 423 bi, que somados equivalem a R$ 1,420 trilhão.

Poderíamos dizer que o CEO da Apple, Tim Cook tem debaixo dele um poder econômico equivalente ao de três governadores brasileiros, Zema de MG, Ratinho Júnior do PR e Eduardo Leite do Rio Grande do Sul. É muito poder na mão do Tim Cook.

Outra forma de se ver esse número seria comparar o valor de mercado da Apple com o valor de empresas brasileiras 'gigantes'.
É aqui fica nítido o quanto uma única empresa americana vale mais do que as maiores empresas brasileiras.

Temos que somar nada mais nada menos que as 7 maiores empresas brasileiras para obtermos 10% do valor de mercado de uma Apple.

O valor de mercado somado de Vale (SA:VALE3) R$ 326 bi, Petrobras (SA:PETR4) R$ 296  bi, Itaú (SA:ITUB4)  R$ 230 bi, Bradesco (SA:BBDC4) R$ 176 bi, Ambev (SA:ABEV3) R$ 201 bi, R$ Santander (SA:SANB11) R$ 107 bi, e Banco do Brasil (SA:BBAS3) R$ 93 bi perfazem R$ 1,429 tri. Ainda que somemos o valor de mercado de todas as empresas listadas do Ibovespa, o valor que obtemos é R$ 3,233 (três trilhões e duzentos trinta e três bilhões).  O Ibovespa inteiro somado chega perto de 1/3 do valor da Apple.

Esse número mostra o quanto o Brasil continua preso a um passado das 'commodities', grande parte das nossas empresas é aquilo que poderíamos considerar da velha economia: petróleo, mineração, papel e celulose, todas elas detentoras de baixo conteúdo de inovação tecnológica comparado ao de uma Apple. O Petróleo cada vez mais será a energia do passado, a demanda está migrando para energias menos poluentes. Basta observarmos o valor de mercado de Tesla (NASDAQ:TSLA), a empresa representa a tendência do futuro dos carros e do petróleo. Por sua vez, o minério de ferro é uma aposta na China, enquanto o gigante asiático tiver necessidade de investir na produção de aço, Vale terá sucesso.
 
Assim como acontece com papel e celulose por meio de Suzano (SA:SUZB3), ou mesmo em produtos alimentícios como as grandes exportadoras de proteínas como BRF (SA:BRFS3), JBS (SA:JBSS3), Marfrig (SA:MRFG3). O denominador comum de muita das empresas do Ibovespa é o preço ditado pelo mercado de insumos básicos (commodities), em outras palavras, pelos consumidores e fornecedores globais.  
 
Cabe destacar que as grandes empresas brasileiras dependem do preço de mercado dessas commodities, isto é, das ofertas e demandas globais. De certa forma, suas receitas estão ao sabor dos ventos da economia mundial, uma estratégia bastante frágil, porque a empresa sempre depende de fatores exógenos ao seu controle.

É importantíssimo destacar que o Brasil já teve sua empresa 'Maçã', alguns devem se lembrar de Renar Maçãs de Santa Catarina que depois se tornou a Pomifrutas (SA:FRTA3), no entanto, se tratava de uma produtora de maçãs mesmo, comestíveis. Ao contrário da 'Maçã Americana' que não tem nada da fruta em si, a não ser o nome.

E por fim queremos saber de você: o que você considera mais interessante, investir na cara ações da Apple americana ou investir nas baratas ações das 'maçãs brasileiras' isto é, commodities dos produtores nacionais.

Deixe sua resposta aqui embaixo.

Um abraço e voltamos na segunda com mais Upside!

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