Museu de novidades
Como político (que não sou), aprendi que nunca se deve começar um discurso com justificativas, nem pedindo desculpas.
Os políticos (que são) me corrijam, mas discurso eloquente deve ser firme desde o princípio, transbordando convicção.
Este M5M é excessão à regra, pois começo pedindo desculpas.
A cada início de semana, acompanhamos uma rápida e expressiva deterioração nas perspectivas dos agentes de mercado. Tema chato, mas que não pode ser ignorado.
Relatório Focus marcou nesta segunda-feira nada menos do que a nona semana consectiva de revisão para cima nas projeções de inflação, acompanhando piora das perspectivas de crescimento.
Espera-se agora um 2015 de IPCA em 7,47%, muito acima da meta (e do teto da meta) de inflação, além de retração de 0,58% na economia.
Isso, com juros em 13% ao ano e câmbio a R$ 2,91.
Não diz respeito somente ao que pensa o “especulador”, e, portanto, “dane-se”.
São as expectativas que vão conduzir variações de preços da economia, podem alimentar mais inflação, norteiam os níveis de confiança para os investimentos produtivos...
Ou seja, é um processo que se retroalimenta.
Já sabe: no M5M da próxima segunda-feira, pode pular a primeira tira.
O dia do sacrifício
Como pequeno crédito, o relatório Focus desta semana ainda não captura a novidade das medidas fiscais.
O ministro Levy tem acelerado as medidas para entregar a meta de superávit primário do ano, trabalhando duro para amenizar o rombo nas contas públicas.
Com as novidades de redução do Reintegra e da desoneração da folha de pagamentos, já teria cumprido R$ 111 bilhões, algo muito positivo para o curto intervalo de tempo.
O outro lado da moeda? A Fazenda pressiona as margens das empresas, aumenta custos e aperta ainda mais a corda no pescoço do empresariado.
Nossa preocupação segue rigorosamente a mesma: que não sacrifiquem Levy diante do enorme impacto social e econômico das medidas.
“Vão mexer nos programas sociais!”
Até agora, as medidas do ajuste fiscal afetam simplesmente TODOS os ministérios da área social.
O que realmente importa (e a arte de desviar a atenção)
Os chineses fizeram uma manobra interessante no final de semana...
Diante da divulgação do indicador PMI ruim, que apontaria retração na manufatura local em fevereiro, os caras anunciaram, um pouco antes, a redução na taxa básica de juros.
Como os mercados estão mais preocupados com a continuidade da farra de liquidez, a manobra funcionou.
Já vimos essa história...
No início do ano, Levy foi chamado às pressas a Brasília, cancelando apresentação na Fiesp vinte minutos antes do início, para anunciar medidas fiscais urgentes.
Coincidentemente, seriam apresentados logo depois os dados das contas públicas em 2014, marcando rombo inédito de R$ 32,5 bilhões.
E enquanto comemorava a celeridade das novas medidas de ajuste fiscal, o mercado tomava na cabeça mais um baita apagão.
Suspeitei desde o princípio
Aliás, o governo anunciou novos aumentos na conta de luz na sexta-feira. Para uma gestão que queria ser lembrada por ter baixado os custos com energia elétrica (promessa da MP 579), o desfecho não poderia ser mais irônico, se não fosse trágico.
O reajuste extraordinário vale para 58 distribuidoras do país, com aumento médio de 23,4% nas contas para o consumidor. O aumento visa cobrir, sobretudo, custos com a energia comprada para revenda. E não nos livra do risco de apagão.
Os valores explodiram desde o ano passado devido ao baixo nível dos reservatórios.
As distribuidoras vinham sendo socorridas pelo governo, mas agora a orientação é passar tudo para o consumidor.
Ajuste fiscal, sabe?