O Ibovespa segue lateralizado, atualmente cotado na faixa dos 139 mil pontos. O dólar, após romper a marca psicológica dos R$ 6,00, recuou e se estabiliza em torno de R$ 5,65. A inflação anual gira em torno de 5,5%, o desemprego está em queda e a balança comercial continua positiva.
À primeira vista, parece que o Brasil finalmente acertou o caminho de casa. Mas só parece.
Esses números escondem a velha conhecida Belíndia de Edmar Bacha: uma nação que combina elementos da Bélgica e Índia, um país com ilhas de prosperidade cercadas por mares de estagnação. A tão aguardada reforma tributária, embora necessária, não parece suficiente para destravar o potencial do país. E embora a burocracia seja um entrave, sejamos justos: há países europeus tão ou mais burocráticos que o Brasil. Na Alemanha, por exemplo, demitir um funcionário é um processo complexo — e nem por isso a economia deles trava.
O problema brasileiro não é só fiscal ou tributário — é lógico. O Brasil precisa de uma reforma da lógica de crescimento.
Tomemos como exemplo a recente política comercial dos Estados Unidos, chamada de Dia da Libertação.
Quando Donald Trump, taxou o mundo especialmente a China. O mundo o chamou de louco. Na semana passada a China resolveu sentar e recuar em suas taxas.
Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ambos os lados cortarão as tarifas em 115%.
Isso significa que as tarifas americanas sobre as importações chinesas cairão para 30%, enquanto as tarifas chinesas sobre produtos americanos cairão para 10%.
Aparentemente, a estratégia de pressão funcionou. Ao forçar um aperto comercial, Trump buscava enfraquecer a indústria chinesa e reposicionar a americana. E conseguiu. Esse tipo de política industrial agressiva é algo que o Brasil, por algum motivo, insiste em evitar.
Nosso mercado interno é vibrante — mesmo com renda baixa, carros de qualidade duvidosa seguem sendo vendidos a preços cada vez mais elevados. Isso revela um consumidor disposto, ainda que penalizado.
Por que seguimos exportando commodities e importando carros elétricos? Por que não pensamos o Brasil além da porteira?
Talvez seja hora de adotar uma política keynesiana com tempero tropical — e, quem sabe, com um toque de “mão invisível” no estilo de Adam Smith. Sim, a provocação é intencional: às vezes, o Estado precisa “aparecer” para tornar o mercado funcional. A estratégia de Trump, nos mostrou que mesmo dentro de uma economia liberal, existe espaço para a intervenção estatal, quando ela for benéfica a Nação.
Expandir a malha ferroviária, irrigar o semiárido, transformar o sertão nordestino — como fizeram com Los Angeles em pleno deserto californiano — numa potência logística e produtiva. Por que não?
Enquanto seguirmos exportando o futuro em commodities e importando o presente em tecnologia, o Brasil continuará sendo um gigante apenas no papel. O agronegócio é importante, mas o Brasil tem potencial para também exportar alta tecnologia, no passado tivemos a Gurgel que foi inovadora para seu tempo. Atualmente temos a Avibras Indústria Aeroespacial, que parece trilhar o mesmo caminho da Gurgel, Gradiente entre outras.
Crescimento de verdade exige mais do que juros baixos e boas intenções — exige ambição estratégica.