Devemos comemorar o IBC-Br?
De novo ele...
O indicador do Banco Central ganhou notoriedade pela situação incômoda da economia brasileira. Com crescimento zero e inflação acima do teto da meta, qualquer prévia do que pode ser o PIB ganha importância, além - é claro - de ares de embate ideológico-partidário, quando não deveria.
O IBC-Br de agosto, divulgado hoje, marcou crescimento de 0,27%.
Isso é bom ou ruim?
É o segundo mês consecutivo de crescimento. Para quem está em recessão técnica, vindo de dois trimestres seguidos de retração econômica e três dos últimos quatro trimestres com queda no PIB, poderia ser algo positivo, não?
Não.
Veio sobre fraca base de comparação (índice vinha de seguidas quedas) e muito abaixo das estimativas, que se indicavam avanço de 0,5%.
Para quem não se lembra, quando marcou expansão de 1,05%, ele mostrou “crescimento com força da economia” para os interlocutores do governo. Já quando apontou retração, “o IBC-Br não é uma medida do PIB”.
Mas muito embora não seja um indicador negativo, e, portanto, útil, cá entre nós, crescimento de 0,27% não chega a ser propriamente “crescimento”.
A decisão mais óbvia do mundo
Duas manchetes importantes dos últimos dois dias - além do anúncio de volta da banheira do Gugu, é claro:
“Queda do petróleo põe fim à defasagem da gasolina”
e...
“Petróleo em queda ameaça investimentos da Petrobras”
Primeiro, um rápido esclarecimento sobre o fim da defasagem... O reajuste não veio, mas, como o dólar deu uma voltada e o petróleo bateu no menor nível em quatro anos, por ora Petrobras conseguiu a tal paridade. Mais por sorte do que juízo, obviamente. Qualquer repique mínimo no dólar ou no petróleo põe tudo a perder. Lembre-se ainda que estamos sem a CIDE.
Agora, o paradoxo:
No plano de investimentos da estatal constam duas premissas: da convergência aos preços internacionais e de um petróleo a US$ 105 no mercado internacional.
Está aí para todo mundo ver:
(PS: para facilitar a exposição do meu ponto, peço por favor que tente ignorar a distância da realidade atual para as demais premissas, como do dólar a R$ 2,23 e dos limites de alavancagem.)
Bom, se a convergência dos preços só vem com um dólar represado e pelo fato de a commodity ter atingido a menor cotação dos últimos quatro anos no mercado internacional (a US$ 80 por barril), das duas uma...
Ou Petrobras abre mão do seu planto de investimentos, baseado em premissas conflitantes;
Ou faz o óbvio, que é o reajuste nos preços dos combustíveis.
A tal da bipolaridade
Percebendo o imbróglio, ontem mesmo o Ministro Mantega afirmou que “a decisão sobre o aumento da gasolina só depende da Petrobras”.
(PS: agora peço, por favor, que por um instante finja acreditar na declaração.)
Ufa, pelo menos desta vez o Ministro parece ter reconhecido o óbvio!
Ops, mas então por que a estatal ainda não o fez? Ele não é o presidente do Conselho de Administração da companhia?
As contas não fecham (de novo?)
A auditoria do Tribunal de Contas da União apontou falhas no contrato da Comperj, da empresa. O projeto, orçado em US$ 8,4 bilhões, já teria atingido até US$ 47,7 bi segundo o documento do tribunal.
Atraso e estouro de orçamento lembram Abreu e Lima...
Dejá vù?
Uma de Pelé outra de Macalé
A produção da estatal em setembro cresceu 0,6%. De janeiro até setembro, sua produção acumula crescimento de 3,7%, o que por si só seria um avanço interessante... Não fosse a meta da empresa para o ano, de crescimento de 7,5%, recentemente reafirmada pela presidente Graça Foster, e, faltando três meses para acabar o ano, um tanto distante.
Petrobras não cumprindo uma meta de produção? Dejá vù?
Fresquinha
Para quem não viu, acaba de sair do forno a nova edição da The Economist
Confesso que, para quem recém escreveu o Fim do Brasil e um editorial, e diante de ameaças recebidas teve de explicar porque escreveu, tanto a posição quanto o ato da The Economist soam como um reconhecimento (ainda que platônico).
A Economist é reconhecidamente uma das melhores publicações de economia do mundo - definitivamente, a que tem as melhores capas.
Você pode até contestar os argumentos (com argumentos, por favor), e questionar que raios são esses gringos para querer falar do Brasil, mas não pode acusá-los de não estarem acompanhando os fatos...