A história de Warren Buffett foi amplamente divulgada pela mídia nos últimos anos, o canal de TV HBO gravou um interessante documentário sobre a sua vida, chamado “Becoming Warren Buffett”. Na internet, podemos achar dezenas de vídeos com ele e nas livrarias talvez centenas de livros sobre o seus métodos, história e trajetória. O Oráculo de Omaha (apelido dado a Warren) não é o único a se destacar no mundo dos investimentos. Seu sócio, Charlie Munger, tem um histórico de retornos na casa de 20% ao ano em sua carteira pessoal ao longo dos mais de 60 anos, o já falecido Walter Schloss (aluno de Ben Graham, pai do Value Investing), ficou famoso por seus resultados impressionantes. Mais recentemente, Joel Greenblatt entregou retornos na casa de 40% ao ano e ultimamente, o gestor britânico Terry Smith, vem se destacando com o Smith Fund.
No Brasil, temos também bons exemplos como Luiz Barsi, Lírio Parisotto, Guilherme Affonso Ferreira e tantos outros. Todos esses grandes gestores possuem resultados impressionantes e que chamam a atenção do pequeno investidor. Cada um com o seu estilo e método, formaram grandes fortunas no mercado acionário e são todos bilionários hoje. Com certas diferenças nos parâmetros e métodos, mas todos seguem a mesma filosofia, seguem o value investing. É sobre esse assunto que vou escrever hoje.
O primeiro ponto em comum desses vencedores, não só no mercado financeiro, é a mentalidade de longo prazo. Esses grandes gestores ficaram famosos por carregarem posições por anos a fio. Warren Buffett possui ações da Coca-Cola desde 1987, da American Express desde os anos 70 e da See’s Candy desde os anos 80. Eles não tentam adivinhar o que acontecerá no mercado, não ligam para previsões macros e tão pouco para política. O foco deles é nas empresas que investem e no preço que pagam por elas.
Outra característica importante desse grupo é que nunca pagam caro por um investimento, mesmo as empresas de altíssima qualidade, eles fazem conta de quanto se poderia pagar e ainda buscam margem de segurança. A Berkshire Hathaway (BVMF:BERK34) (NYSE:BRKa), holding do Warren Buffett, começou a comprar as ações da Apple (NASDAQ:AAPL) entre 2015 e 2016, nessa época a empresa era vendida entre 10x lucro e 13x, ele montou toda a sua posição com um excelente preço, ainda mais, se considerar uma das empresas de mais alta qualidade do mundo. Quando se investiga a história desse grupo de investidores, o método é o mesmo, pagar barato por um bom negócio!
Uma grande queda de mercado, como em 2008 ou 2020, são grandes oportunidades. O investidor inexperiente geralmente se assusta e sai do mercado, os profissionais entram comprando, pois o preço importa e muito. Nesses momentos de pânico, o mercado dá a oportunidade de comprar incríveis ativos por excelentes preços. O pequeno investidor vende as ações ou cotas de fundos de ações, pressionam o mercado e os profissionais entram comprando essas barganhas. Nesses momentos de incertezas que aparecem essas oportunidades, você não vai comprar ativos baratos em um mercado otimista.
O foco deles sempre é no negócio, na maioria das vezes eles procuram ativos com excelente números como: margens altas, crescimento de receita, crescimento do patrimônio líquido, forte geração de caixa e principalmente, altos retornos sobre o capital empregado (ROIC). Essa última métrica, talvez seja a mais importante. Ela determina quanto a empresa gera de resultado sobre o patrimônio líquido mais a sua dívida líquida. Quanto maior esse indicador, mais rentável e eficiente é a empresa analisada. Quando se analisa o ROIC da Apple, você encontrará um número muito alto, mais de 80%, ou seja, a empresa rentabiliza mais 80% do seu capital empregado por ano, um verdadeiro absurdo.
Eles buscam sempre o reinvestimentos de dividendos. Uma parte importante do resultado dessas empresas são distribuídos, se você não reinveste, não fará juros compostos. Para termos uma ideia, em 2021, o Luiz Barsi recebeu ao longo do ano mais de R$ 250 milhões em dividendos, a Berkshire Hathaway tem hoje mais de U$ 100 bilhões em caixa, caso elas parem de reinvestir, irão tirar o dinheiro de uma empresa barata, com um ROIC alto, para aplicar em ativos com retornos bem menores que os ROICs dessas empresas.
Os maiores erros dos iniciantes são geralmente fazer o oposto desses grandes gestores. Investem como especuladores, giram enormemente as carteiras (vários estudos vêm demonstrando que o giro médio das carteiras vêm subindo, o que é muito ruim), esperam uma pequena valorização para vender a sua ação do momento e acabam gerando receita para bancos e corretoras. Pagam caro por ativos ruins, exemplo maior foi a precificação de algumas empresas de varejo ou de tecnologia no Brasil. Elas quase não davam lucro algum, sendo negociadas acima de R$ 100 bilhões na B3 (BVMF:B3SA3). Quem compra um ativo valendo mais de 100 bilhões sem dar lucros, são especuladores e não investidores! Por fim, meu conselho para quem quer investir é estudar sobre contabilidade, para entender como quantificar bons negócios e não ficar na mão de blogueiros, gerentes de bancos e afins.
O processo de formação de investidor não é um bicho de sete cabeças, o investidor pode sim estudar e investir sozinho, mas demanda dedicação e tempo. Caso não seja o seu perfil, aconselho estudar junto com o seu gerente ou assessor de investimentos sobre bons fundos de investimentos para se investir no longo prazo. Fugiria das carteiras mensais e semanais, alocaria o seu recurso em uma carteira diversificada de fundos de ações. Bons livros sobre o assunto: “A fórmula mágica”, do Joel Greenblatt, “Warren Buffett e análise de balanços”, do David Clark e da Mary Buffett” “O rei dos dividendos”, do Luiz Barsi Filho e “Faça fortuna com ações”, do Décio Bazin.