O tema ESG (Ambiental, Social e Governança) volta ao debate. Nos últimos dez anos, muito se falou sobre a adoção de práticas ESG, mas, especialmente após a pandemia, essa pauta perdeu um pouco de destaque. No entanto, diante das mudanças climáticas, dos conflitos geopolíticos e dos avanços tecnológicos recentes, o assunto tem retornado para o debate.
Recentemente, conversei com Carlos Parizotto, sócio responsável pela área de Investment Banking da Galapagos Capital, para explorar o impacto das práticas ESG tanto nas fusões e aquisições (M&A) quanto nas emissões de dívidas.
Neste artigo, compartilho alguns insights dessa conversa.
Para iniciar, é interessante observar alguns dados sobre ESG em transações de M&A. Um estudo da Deloitte, de 2023, indica que 85% das empresas globais consideram as práticas ESG essenciais para a continuidade dos negócios, especialmente em processos de fusões e aquisições.
Já um relatório da PwC, de 2022, revela que 75% dos executivos acreditam que os fatores ESG influenciam diretamente no valor de mercado das empresas.
Carlos destacou que a pauta ESG evoluiu de forma positiva, saindo de um conceito abstrato inicial para se tornar um fator decisivo nas características e condições das transações.
Ele explica que tanto os investidores quanto as empresas têm adotado critérios específicos para avaliar onde investir, observando aspectos como governança corporativa, a existência de conselhos de administração estratégica e auditorias com histórico consistente de análises.
Carlos trouxe um exemplo de uma grande empresa de tecnologia que enfrentou dificuldades em uma transação devido a uma percepção negativa sobre o clima de trabalho dentro da companhia.
Essas informações, acessíveis em plataformas como Glassdoor, levaram um importante investidor de Private Equity a desistir da negociação. Como resultado, a empresa revisou suas políticas de recursos humanos para evitar problemas futuros.
Na área de Mercado de Capitais de Dívida (DCM), ou emissão de dívidas, a pauta ESG também tem se consolidado.
De acordo com uma pesquisa da Bloomberg de 2023, as emissões de títulos sustentáveis, conhecidas como Green Bonds, cresceram 20% na comparação com o ano anterior. Esses títulos, muitas vezes atrelados a metas ambientais e sociais, têm sido bastante procurados por investidores que buscam retorno financeiro alinhado a práticas sustentáveis.
Carlos apontou que, em 2023, o mercado global gerou cerca de meio trilhão de dólares em Green Bonds, demonstrando uma alta demanda por esses ativos.
Esses títulos são vinculados a metas específicas, como redução de emissões de CO₂ ou cumprimento de cotas de diversidade, oferecendo ao investidor uma maneira tangível de acompanhar o impacto de seus investimentos.
E, além de todo esse movimento, a adoção de práticas ESG também está impactando diretamente a avaliação das companhias.
Segundo a Harvard Business Review, empresas com práticas ESG maduras podem aumentar em até 19% a avaliação em transações de fusões e aquisições.
Carlos reforçou que a valorização das empresas com práticas ESG ocorre por dois motivos principais:
1. O aumento na oferta de capital direcionado a esses investimentos e o desempenho operacional superior dessas empresas.
Ele explicou que a crescente demanda por investimentos sustentáveis pode, por si só, aumentar o valor de mercado dessas empresas.
2. E o segundo ponto é que empresas com práticas ESG robustas tendem a apresentar um desempenho operacional mais eficiente e a reduzir riscos regulatórios, ambientais e trabalhistas, o que agrega valor ao negócio ao longo do tempo.
Em resumo, embora o tema ESG tenha sido inicialmente abordado do ponto de vista conceitual, hoje ele assume um papel crítico e mensurável, que contribui para a continuidade dos negócios, para a valorização das empresas e para a mitigação de riscos.
Essa transformação reflete o amadurecimento das práticas ESG no mercado, agora vistas como uma estratégia de negócio necessária.
Pense nisso e até a próxima!